A contribuição do Nobel da Economia de 2019 e a sua importância para o Mundo

A contribuição do Nobel da Economia de 2019 e a sua importância para o Mundo

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O Prémio Nobel da Economia de 2019 foi atribuído conjuntamente aos Professores Abjihit Banerjee e Esther Duflo (MIT, E.U.A.) e Michael Kremer (Harvard, E.U.A.), pelas suas contribuições para uma nova abordagem de combate à pobreza, respectivamente pela abordagem das Experiências Aleatórias Controladas (EAC), em inglês, Randomised Control Trials (RCT)

Miguel Rocha de Sousa, professor do Departamento de Economia e investigador do Centro de Estudos e Formação Avançada em Gestão e Economia (CEFAGE) da Universidade de Évora (UÉ) explica que a abordagem das experiências aleatórias controladas é um modelo “importado da medicina”, sobretudo quando esta testa novos medicamentos. Os cientistas “consideram dois grupos, o grupo A (que toma o remédio durante dois anos), e o grupo B (placebo, ou de controlo, que não o toma), ao fim de dois anos reverte-se o processo e avaliam-se os impactos do remédio/droga”, sublinha.

Mas o que tem a medicina a ver com economia e métodos experimentais em economia, e concretamente na área do desenvolvimento? A pergunta e a resposta à questão é dada pelo mesmo investigador da UÉ, salientando que “Michael Kremer, Abjihit Banerjee e Esther Duflo inovaram, o ovo de colombo foi aplicar esta metodologia experimental, os ditos RCT (ou EAC) às políticas económicas e programas de combate à pobreza a uma escala micro”, em vários países, como no Quénia e mais tarde na Índia. Estas “políticas de desenvolvimento foram aplicadas à escala local para depois ser possivel retirar conclusões mais globais”; por exemplo na área da educação “este modelo foi testado com a presença de uma Balsakhi, explicadora complementar em sala de aula, mas também na aplicação de redes mosquiteiras e pelo uso de remédios de desparasitação”, avançou ainda Miguel Rocha de Sousa.

O doutorado em Economia pela UÉ, salienta que a técnica (RCT) “passou em apenas duas décadas a dominar a área do micro desenvolvimento o que permite quantificar impactos, ex-ante, ex-post, viés de seleção”. Ainda que “econometricamente esta área não seja muito trabalhosa, exige trabalho de campo, uma equipa dedicada, e um delineamento experimental dos grupos de política e de controle (placebo)”, contribuições estas que Bannerjee e Duflo resumiram na obra “Poor Economics”, edição esgotada em língua portuguesa, que contitue “umas das obras de referência que os meus alunos acabaram por seguir”, elucida.

O trabalho desenvolvido nestas áreas por Amartya Sen, o primeiro indiano (e asiático) a receber o Prémio Nobel da Economia, pelas suas contribuições para a economia do bem-estar e a teoria da escolha social, onde refere que “a pobreza não é culpa dos indivíduos, mas da falta de capabilities, e que estas podem ser geradas por politicas ou projectos ousados, nomeadamente via RCTs”, foi também destacado por Miguel Rocha e Sousa.

Sobre o americano nascido na Índia Abjihit Banerjee, o investigador da UÉ apenas se correspondeu por meio eletrónico, “na altura em que preparava a tese de doutoramento sobre políticas fundiárias em 2008, disponibilizando de imediato material essencial para a progressão do meu trabalho”, estando prevista a visita de Abjihit Banerjee a Portugal por volta dos anos de 2010, facto que não veio a concretizar-se.

“Curiosamente” e ao contrário de Abjihit Banerjee, “acabei por cruzar-me com a sabedoria e a simpatia de Michael Kremer, o grande ideólogo e pioneiro da ideia do RCT precisamente aqui em Évora em Julho passado (2019) quando a professora Cesaltina Pires o convidou a participar no Portuguese Economic Journal Meeting organizado pelo CEFAGE” e revisitou “de modo singelo a questão da convergência macroeconómica dos países (também questão de desenvolvimento, mais macro), retomando métodos antigos com novos dados reequacionando tudo de novo”.

A teoria do desenvolvimento (O-ring theory), “original de Kremer,” que “refere que as complementaridades estratégicas são cruciais para o desenvolvimento” foi outro ponto em evidência e salientado por Miguel Rocha e Sousa, explicando que “se tivermos 4 indivíduos, 2 de alta produtividade, e 2 de baixa |produtividade|, mais vale juntar os 2 de alta e os 2 de baixa do que fazer duas equipas com um de alta e baixa de cada; ideia só por isso valer-lhe-ia um Nobel, essencialmente porque formalizou e, depois generalizou o intuitivamente óbvio”.

No final, o professor do Departamento de Economia da UÉ, mostra-se satisfeito pelo facto dos alunos da UÉ estudarem estas áreas desde 2010, “expostos a estas teorias e ferramentas a um nível básico na licenciatura, e a um nível avançado no mestrado e doutoramento; de Évora e com Évora para o Mundo, seja ele, neste caso, no MIT, Chicago ou Timor, ou Moçambique ou Angola”, conclui.

Em entrevista, Cesaltina Pires, professora do Departamento de Gestão da academia alentejana, assistente de investigação de Michael Kremer, no Massachusetts Institute of Technology, Cambridge, onde veio a doutorasse em Economia em 1994, considerou “completamente merecido” a entrega do Prémio Nobel ao seu antigo professor e recorda que este, “desde cedo começou a ser reconhecido pela sua criatividade e inovação”. A atual Vice-Reitora para a Educação e Qualidade da UÉ, enfatizaou ainda o facto de a Educação ser para Kremer “um dos principais motores do desenvolvimento” no Mundo.

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