Brasil é campeão em área adequada para recuperação de florestas

Brasil é campeão em área adequada para recuperação de florestas

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Estudo liderado por brasileiro aponta regiões com maior potencial para a restauração de florestas tropicais destruídas. No mundo, 11% delas podem ser recuperadas. Apesar da aptidão, Brasil vê desmatamento disparar.

Mata Atlântica
“O Brasil e a Mata Atlântica são os campeões de áreas importantes para restauração”, diz Pedro Brancalion

Praticamente sem financiamento, mas decididos a fazer ciência para guiar decisões políticas na área de recuperação de florestas tropicais, pesquisadores de um time internacional passaram os últimos quatro anos focados numa questão: localizar as melhores oportunidades de restauração florestal no globo.

A resposta aparece em forma de um artigo publicado nesta quarta-feira (03/07) na revista Science Advances. O Brasil é o país com mais pontos promissores, seguido por Indonésia, Índia, Madagascar e Colômbia.

O trabalho, liderado pelo brasileiro Pedro Brancalion, contou com cientistas nos Estados Unidos, Alemanha e Austrália. “O Brasil e a Mata Atlântica são os campeões de áreas importantes para restauração”, afirma Brancalion, da Universidade de São Paulo (USP), à DW Brasil.

Com base num complexo conjunto de dados e imagens de satélites, o mapa gerado durante as análises mostra a costa brasileira, originalmente coberta por floresta tropical, como a área com maior potencial.

Foram usados três critérios para analisar a viabilidade de uma recuperação florestal: custos de oportunidade da terra, variação da paisagem no sucesso da restauração e chances de persistência da restauração.

Onde mais se ganha dinheiro com a exploração do solo, menor é a chance de se recuperar a paisagem original. “É mais fácil pensar em recuperação de uma pastagem ou área declivosa na Mata Atlântica, onde não se ganha quase nada, do que numa área de cana-de-açúcar no interior de São Paulo”, alerta Brancalion, que assina outro artigo sobre o mesmo tema a ser publicado na Science.

Segundo a metodologia, regiões na Amazônia atualmente são dadas como inviáveis. “Pressões sociais e econômicas ainda são pela perda da floresta, e não pelo ganho”, justifica o principal autor do artigo. “Quanto maior a perda média de florestas nos últimos dez anos num determinado raio, menor é a chance de uma floresta ser restaurada e persistir.”

Medições do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o desmatamento da Floresta Amazônica em junho foi 60% maior do que no mesmo período do ano passado.

O estudo de Brancalion apontou que, em todo o globo, 11% das florestas tropicais destruídas poderiam ser recuperadas, com melhor custo-benefício para a redução de emissões de carbono, produção de água, melhora da qualidade de vida das pessoas e proteção da biodiversidade. A área total identificada pelos cientistas, de 100 milhões de hectares, é equivalente ao tamanho de Espanha e Suíça.

Chave para remediar mudanças climáticas

Florestas são apontadas como fator-chave para remediar os impactos da crise climática. Ao armazenar um dos principais gases que causam o efeito estufa, o CO2, elas auxiliam no combate ao aumento da temperatura, além de serem essenciais na produção de água, alimento e renda para muitas comunidades.

Florestas naturais são também estratégicas para que as metas climáticas estipuladas em acordos internacionais sejam alcançadas. Um deles é o chamado Desafio de Bonn: lançado em 2011 na cidade de mesmo nome na Alemanha, o pacto propõe a recuperação de 150 milhões de hectares de terra degradada até 2020 e de 350 milhões de hectares até 2030.

Os cientistas que assinam o estudo providenciam agora uma certa inteligência espacial para que acordos como esse sejam transformados em árvores plantadas nos locais mais indicados.

“A gente não sabe como botar isso em prática. Não vai ser fácil recuperar porque tem gente trabalhando nessas áreas, com gado, agricultura. Por isso a proposta de criar essa ferramenta”, afirma Brancalion. O próximo passo é lançar um aplicativo com as informações para que governos consultem os dados ao elaborar projetos de restauração florestal.

Ao assinar o Acordo de Paris, o Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares até 2030 e até 15% das áreas degradadas até 2020. O país já tem experiências práticas que mostram como projetos do tipo são também um bom negócio, com exemplos que vão de norte a sul do país e são acompanhados pelo WRI Brasil (World Resource Institute).

O fato de o Brasil aparecer no estudo como país com mais pontos potenciais para a recuperação florestal não causa surpresa a Carlos Rittl, do Observatório do Clima. Segundo Rittl, o país dispõe de meios legais para promover a restauração florestal, como a Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Proveg).

“Mas a agenda em curso é outra. É de destruição, promovida pelo governo de Jair Bolsonaro, pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles”, critica. “A ciência, mais uma vez, mostra que a natureza é boa também para a economia. Mas o governo se esforça para chegar atrasado no futuro. Ou joga o futuro debaixo da esteira do trator, que destrói florestas e acaba com a política ambiental.”

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A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo

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