Lançamento do Boletim Macro Regional ressalta desafios para dinamizar o PIB do Nordeste

Lançamento do Boletim Macro Regional ressalta desafios para dinamizar o PIB do Nordeste

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Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Esta semana, o Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste do FGV IBRE divulgou o primeiro Boletim Macro Regional, que mensalmente apresentará uma análise da economia nordestina com a cobertura de quatro áreas – atividade econômica, setorial, mercado de trabalho e inflação -, além da seção Nordeste Em Foco, que a cada edição tratará de um tema diferente.

Neste boletim inaugural, os pesquisadores ressaltaram o desafio de crescimento da região, cuja economia representa uma pequena fatia do PIB Nacional, de 13,8%, sem sinais de evolução significativa: em 1947, essa participação era pouco menor, de 12,5%. A contraparte desses números está em dados socioeconômicos não menos desafiadores, que os pesquisadores do Centro, liderados pelo economista Flávio Ataliba, têm revelado em estudos e levantamentos. Por exemplo, o que revela que mesmo liderando a redução da pobreza entre 2021 e 2023, a região ainda concentra a maioria da população extremamente pobre do país, com 55% do total nacional. Outro levantamento, destacado pelo Blog (leia aqui) mostra o recente aumento da participação dos programas sociais no total da renda dos brasileiros, em especial no Nordeste.  “Com o Boletim, nosso objetivo é reunir entendimentos para possibilitar as melhores decisões, no sentido de acelerar o desenvolvimento da região, propiciando o aumento do bem-estar da população”, afirma.

Variação % IBC-R – junho 2024
Últimos 12 meses


Fonte: FGV IBRE, com dados do BCB.

Uma das tarefas para virar essa chave, destacada por Ataliba, é aprofundar a análise sobre os gargalos para o desenvolvimento da indústria nordestina. O pesquisador defendeu, tal como destacado na cobertura feita pelo jornal Valor Econômico (link para assinantes do jornal), que a indústria do Nordeste precisa ganhar dinamismo, já que “ainda tem problemas estruturais e ‘corre’ abaixo do Brasil”.

O Boletim aponta que a atividade da indústria nordestina registrou queda de 6% em junho em comparação a maio, conforme dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE. Os impactos negativos mais fortes vieram da Bahia (-5,4%) e Pernambuco (-5,2%). Na variação acumulada em 12 meses, o resultado do Nordeste se mantém em vermelho (-1,5%), contra 1,5% positivo do Brasil, com queda no desempenho industrial do Ceará (-1,4%) e Maranhão (-0,8%). No Boletim, os pesquisadores destacam ainda que o Índice da Produção Física Industrial do Nordeste fechou junho em R$ 96,10, abaixo da média de R$ 101,12 registrada na série iniciada em janeiro de 2020, indicando que o setor ainda não conseguiu recuperar o nível pré-pandemia.

Na atividade de serviços, o destaque de junho foram Paraíba, Sergipe e Bahia, que tiveram desempenho acima do volume nacional medido pela Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE quando comparado a maio, e apenas Alagoas e Rio Grande do Norte registraram números negativos (respectivamente, -0,2% e -1,1%). Na análise da evolução dos principais segmentos de serviços em relação a  junho de 2023, Ceará, Pernambuco e Bahia registraram retração em transportes e no grupo de outros serviços. Pernambuco foi o estado que registrou a maior alta em serviços profissionais (11,4%), o Ceará liderou o aumento de serviços de informação e comunicação (11,1%), e a Bahia teve a maior alta em serviços prestados às famílias (13,1%).

No comércio, a atividade varejista registrou um mês de junho negativo em todos os estados, acompanhando o desempenho nacional na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC- IBGE), à exceção de Alagoas, que marcou uma expansão de 2,4%. Na variação acumulada em 12 meses, entretanto, apenas a Paraíba mantém retração (-2,8%); Ceará e Maranhão se destacam, com alta na casa dos 9%, contra 3,6% na média nacional.

Desempenho de serviços, comércio varejista e indústria 
variação (%) acumulada em 12 meses


Fonte: FGV IBRE, com dados do IBGE.

Na primeira metade de 2024, dados do Índice de Atividade Econômica Regional do Banco Central (IBC-R) apontam que a atividade econômica do Nordeste registrou alta de 3,1%, acima do PIB nacional, que marcou 2,1% no mesmo período. O desempenho acima da média nacional foi observado nas três maiores economias da região, sendo o estado do Ceará o que registrou a maior alta (5,7%), seguida por Pernambuco (3,4%)  e Bahia (2,7%). Em 12 meses encerrados em junho, essa tendência se repete, com a expansão do Nordeste marcando 2,6%, contra 1,6% da nacional em relação ao mesmo período anterior.

Esse desempenho favorável leva os pesquisadores a considerar que a queda da atividade observada na ponta – de -1% em junho em relação a maio, enquanto no Brasil houve expansão de 1,4% – seja algo pontual, mas que ainda deve ser acompanhado com cautela.

Uma boa notícia destacada no Boletim é que junho foi o melhor mês de 2024 em termos de geração de emprego: 45.940, elevando o estoque para 7,7 milhões de empregos formais, de acordo aos dados do Caged, do Ministério do Trabalho. Bahia, Ceará e Pernambuco responderam por 53,4% dessas vagas; Bahia e Ceará ainda respondem por 67% do saldo positivo acumulado no ano.  Alagoas foi o único estado com perda de postos de trabalho em 2024 até junho, com um saldo negativo de 8 mil vagas.

Saldo de empregos formais – junho/24 
acumulado do ano


Fonte: FGV IBRE, com dados do Caged.

Mesmo com esses resultados, a taxa de desemprego no Nordeste se mantém consideravelmente mais alta que a nacional: no segundo trimestre de 2024, foi de 9,4%, contra 6,9% na média brasileira; no primeiro trimestre do ano, havia fechado em 11,1%. As maiores taxas de desocupação na região no segundo trimestre foram a de Pernambuco (11,5%) e Bahia (11,1%). O rendimento médio habitual na região no segundo tri foi de R$ 2.132, aumento de 5% em relação ao primeiro trimestre, e de 8,5% em relação ao mesmo período do anterior – o maior entre as regiões, seguida pelo Sul (7,2%) e Sudeste (5,6%).

A Seção Em Foco Nordeste da primeira edição do Boletim é de autoria do pesquisador Vitor Hugo Miro e dá continuidade aos estudos anteriores do Centro que levantam dados para servir de farol na identificação de caminhos para mitigar a extrema pobreza na região.  Ele mostra que a taxa de participação (que mede o percentual da população em idade ativa que está empregada ou procurando emprego) das pessoas em extrema pobreza no mercado de trabalho tem se reduzido – de 38,2% em 2021 para 29,5% em 2023 – mas mesmo assim o desemprego aumentou para esse grupo, de 54,4% para 57,6% no mesmo período. Miro lembra que muito se fala sobre o papel dos programas de transferência de renda como incentivador da desistência de parte dessa população de procurar uma fonte de renda, mas destaca que sem promover um mercado de trabalho mais dinâmico, que libere o país da armadilha de baixo crescimento, “faz pouco sentido falar da necessidade de redução da dependência de renda dos programas sociais”.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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