Depois de um 1º semestre considerado positivo para a economia nacional, expectativa é de mais avanços com aceleração da vacinação e cenário externo benigno

Por Lara Rizério

SÃO PAULO – A primeira metade de 2021, mesmo que não tenha números fechados, foi considerada surpreendentemente positiva para a recuperação da economia do Brasil, ainda que haja muitos desafios para superar a pandemia do coronavírus. Para o segundo semestre, a expectativa é de continuidade da recuperação com a expectativa de aceleração da vacinação, que ainda anda a passos lentos, além do país ser guiado também pela melhora da economia internacional, impulsionando as commodities.
Os últimos dados da economia, com destaque para os números do primeiro trimestre – que subiu 1,2% na comparação com os últimos três meses de 2020 -, levaram diversas casas a revisarem as suas projeções econômicas para cima, com alta de até 5,5% para 2021. A resiliência da economia foi apoiada em juros reais baixos, ampla oferta de crédito, níveis elevados de poupança, recuperação do emprego formal, forte crescimento global e adaptação às medidas de restrição.
Conforme ressaltam os economistas do Bradesco, apesar de indústria, comércio e serviços ainda estarem sujeitos a restrições sanitárias, os números desses setores têm se mostrado melhores do que o esperado. A retomada, apesar das medidas de distanciamento ainda presentes, também tem ocorrido de forma mais célere. A projeção dos economistas do banco é de alta de 5,2% do PIB do Brasil neste ano.
A expectativa é de que a abertura da economia, com o avanço da vacinação, leve a favorecimento sobretudo o setor de serviços, mas a agricultura segue se destacando em 2021, avalia a equipe.
De acordo com os economistas do Bradesco, na agricultura, o balanço global entre oferta e demanda segue muito apertado, mantendo os preços elevados e as margens positivas. A pecuária, por sua vez, segue com grandes pressões de custos de ração. A seca deve reduzir o nível de confinamento nesta entressafra, aumentando a oferta (maior abate) de boi gordo no curto prazo e gerando menor pressão nos preços. Entretanto, o alívio deve ser temporário, uma vez que o número de animais abatidos no final do ano tende a ser menor, levando a novos aumentos de preços.
Já com relação à indústria, ela tem reportado falta de insumos e estoques baixos como limitantes ao crescimento. O nível de estoques ainda está abaixo do padrão, tanto na indústria como no comércio, e algumas anunciaram paralisação por conta da falta de insumos Assim, o setor continuará recompondo estoques nos próximos trimestres. A indústria de bens intermediários tende a seguir se beneficiando, impulsionada pela demanda e pela recomposição de estoques. A produção de madeira, produtos metalúrgicos, celulose, químicos, borracha e plásticos segue em patamar elevado. Tais setores estão com níveis de estoque em baixo patamar. Além disso, a demanda interna segue positiva, apontam os economistas.
Na construção civil, o desempenho tem sido positivo, mas a elevação de custos é um ponto de atenção. A demanda por imóveis residenciais segue aquecida, após a forte queda de estoques em 2020. Já em infraestrutura, a retomada dos leilões traz um cenário positivo à frente, apontam os economistas. Em 2021 o governo federal já realizou a concessão de 29 projetos, sendo 22 aeroportos, 5 portos, uma rodovia e uma ferrovia. A lista para o ano ainda é grande e algum atraso pode ocorrer. “Mesmo que parte dos leilões fique para 2022 o ano de 2021 será marcado pela retomada das concessões de infraestrutura, com efeitos sobre a economia que se espalham no tempo”, avaliam.
No comércio, a demanda segue especialmente favorável para bens duráveis e materiais de construção. “Veículos, móveis e
eletrônicos e materiais de construção ainda são beneficiados por juros baixos e pela retomada do emprego com carteira assinada, além do acúmulo de poupança no ano passado. O desempenho apenas não é melhor em razão da falta de insumos, algo que a indústria desses bens tem chamado atenção nas últimas sondagens e que mantém os prazos de entregas mais dilatados.
A inflação de alimentos e redução dos programas governamentais, por sua vez, já afetam as vendas em supermercados, assim como a reabertura gradual de restaurantes. Já as vendas de bens semi-duráveis seguem atrasadas no ciclo, mas tendem a acelerar com reabertura da economia. Nesse segmento estão vestuário, calçados e combustíveis. Se não houver retrocessos na imunização ou complicações adicionais vindas da pandemia, as perspectivas para o setor serão encorajadoras, aponta o Bradesco.
No setor de serviços, a expectativa é de que a reabertura impulsionará os segmentos voltados às famílias e transportes, destacando projeção de recuperação também ao fazer uma análise comparativa com outros países que estão com um processo de vacinação mais avançado, como Reino Unido e Israel, ainda que haja uma retomada de forma diferente dependendo do segmento.
A recuperação do setor continua aquém dos demais setores no Brasil por conta do fraco desempenho da linha de serviços prestados às famílias, uma vez que as medidas de distanciamento social ainda impedem a utilização plena desses serviços, especialmente de alojamento e alimentação. Isso também deve ser atenuado com a continuidade do processo de vacinação no país e a reabertura da economia. Os serviços de tecnologia da informação são o destaque positivo até o momento, enquanto os de armazenamento e logística também estão sendo favorecidos, com maior demanda do comércio eletrônico, apesar dos serviços de transportes estarem mais fragilizados por conta do transporte aéreo.
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Os serviços de saúde seguem se beneficiando da reabertura e do avanço dos beneficiários de planos de saúde. Os procedimentos eletivos foram interrompidos temporariamente durante a 2ª onda de Covid 19 em diversos estados, mas já foram retomados. Além disso, o número de beneficiários de planos de saúde vem se elevando, acompanhando a recuperação do emprego formal.
O setor de educação, por sua vez, está em recuperação, mas a captação de alunos ainda é um desafio, avaliam os economistas. No ensino básico, a demanda tem apresentado alguma melhora e, como consequência, os ajustes das matrículas e as renegociações de parcelas cessaram. No ensino superior, a captura de alunos ainda é um grande desafio, mas a recuperação da atividade e do emprego devem impulsionar o segmento nos próximos trimestres, ainda que de forma gradual, aponta o Bradesco.
Quando as economias pelo mundo devem se recuperar?
O Itaú também aponta que a vacinação está permitindo o controle da pandemia pelo mundo, destacando o desempenho de outros países. Entre as grandes regiões, o controle ocorreu primeiro na China, depois nos EUA, posteriormente na Europa e agora deve avançar em mercados emergentes. Nos EUA, o pico da pandemia foi em janeiro/fevereiro. O contágio começou a recuar com 20% da população vacinada em fevereiro. Agora, com mais de 67% da população vacinada com ao menos uma dose, o número de mortes por Covid está nas mínimas.
A Europa segue a mesma dinâmica, com dois meses de diferença ante os EUA, e vê recuo consistente da pandemia desde abril, quando a vacinação atingiu pelo menos 20% da população. Na China, a vacinação acelerou somente nos últimos dois meses. Mas o controle da pandemia ocorreu com a eficácia das medidas de contenção do vírus (testagem em massa, rastreamento de contatos e isolamento) no segundo trimestre de 2020.
Já os demais países emergentes devem começar a ver benefícios de sua vacinação no terceiro trimestre de 2021. Países como Brasil possuem um mix diverso de vacinas e estão no limiar dos níveis de vacinação que geraram melhora nos EUA e Europa, aponta o banco. Outros países também devem começar a ter ganhos. A disponibilidade global de oferta de vacinas está subindo e, partir de agora, novas doses serão destinadas principalmente para países emergentes, avalia a equipe de análise econômica, com aproximadamente 6,4 bilhões de doses na segunda metade do ano.
Segundo os economistas Guilherme Martins, Laura Pitta e Matheus Franciscão, todos os países desenvolvidos devem recuperar o nível do PIB de 2019 em 2021, enquanto que, para os emergentes, esse momento varia, podendo ser até a metade de 2022. Entre os desenvolvidos, Austrália e Nova Zelândia tiveram uma recuperação mais rápida, já tendo retornado ao nível pré-Covid nos primeiros três meses deste ano, Estados Unidos e Noruega no segundo trimestre, enquanto Japão, Canadá e demais europeus devem atingi-lo somente no segundo semestre.
Já entre os emergentes, a retomada dos níveis anteriores à crise é bem mais heterogênea: enquanto China, Turquia e Índia já retornaram em 2020, temos outros tais como México, República Tcheca e África do Sul, que devem voltar somente no próximo ano.
Para além do nível do PIB, os países desenvolvidos devem apresentar recuperação completa e retornar à tendência pré-pandemia entre o terceiro trimestre de 2020 e primeiro trimestre de 2022, mas os emergentes podem levar até depois de 2023 para voltarem à tendência. No Brasil, a expectativa é de que o PIB retorne à tendência pré-vírus em 2023 ou depois. Isso vale também para Colômbia e Chile, além dos países emergentes asiáticos cujas economias dependem muito do turismo. Por outro lado, os países emergentes da Europa (Polônia, República Tcheca e Hungria) voltam à tendência pré-pandemia em 2022, uma vez que acompanharam o ritmo de vacinação da Zona do Euro.
Na avaliação dos economistas do Itaú, a severidade da pandemia (medida em termos de óbitos per capita) explica uma pequena parte da diferenciação da recuperação entre países.
Para eles, dois outros fatores explicam melhor o ocorrido. O primeiro deles é a maior velocidade da vacinação, que implica em retorno mais rápido à normalidade econômica.
Já o segundo fator é o tamanho (e espaço) do estímulo fiscal. “Há uma correlação positiva entre a expectativa do PIB ao fim deste ano em relação à tendência com o tamanho do estímulo fiscal, mostrando um efeito positivo dos pacotes adotados, que resultam em menor queda e/ou recuperação mais forte. Porém, nota-se que para um mesmo tamanho de estímulo, o crescimento foi em média, superior nos mercados desenvolvidos que nos emergentes, mostrando que além das quantias dispendidas, o espaço para política fiscal (que se espera ser maior entre os desenvolvidos) tem papel relevante. Estímulos fiscais em economias maduras têm menos impacto sobre condições financeiras, ao passo que, em países emergentes, o aperto das mesmas tende a amortecer, ao menos parcialmente, o efeito das medidas fiscais expansionistas” , apontam.
Fonte : Infomoney



