2024 é o ano da China no Brasil, e ninguém parece perceber

2024 é o ano da China no Brasil, e ninguém parece perceber

- in Notícias
0
Comentários desativados em 2024 é o ano da China no Brasil, e ninguém parece perceber

Alexander Busch | Kolumnist

Alexander Busch
ColunaTropiconomia
Neste ano, Pequim poderá expandir significativamente sua influência política na América do Sul. O Brasil tem um papel fundamental a desempenhar nesse processo.

https://p.dw.com/p/4kFzH

Anúncio

Nota de dinheiro chinês enrolada com retrato de Mao sobre mapa da América do Sul
China vem exercendo influência cada vez maior na economia e na política sul-americanasFoto: La Nacion/ZUMAPRESS/picture alliance

A América do Sul caiu no meio das frentes de batalha de novos conflitos geopolíticos: países como a Rússia e a China estão expandindo sua influência na região. O Irã, assim como o Catar e os Emirados Árabes Unidos, também tentam fazer o mesmo.  A Europa e os EUA estão lutando contra a crescente perda de influência.

No entanto, no caso da China, o Brasil, assim como o restante da América do Sul, parece ter se acostumado ao fato de que o país asiático não só se tornou o maior comprador de produtos da América do Sul, mas também vem se tornando cada vez mais importante como investidor. As empresas estatais chinesas agora dominam setores e regiões, como o fornecimento de eletricidade no estado de São Paulo ou da capital peruana, Lima.

Nos próximos meses, uma série de eventos podem fortalecer significativamente também o domínio político da China na região.

Novo porto no Peru

Em novembro, o presidente chinês, Xi Jinping, inaugurará o novo porto ultramarino de Chancay, no Peru. Esse será, de longe, o maior porto de águas profundas no lado do Pacífico da América do Sul. Ele foi construído e financiado sob a liderança da operadora portuária chinesa Cosco. O porto de contêineres reduzirá em dez dias o tempo de viagem entre a América do Sul e a China.

O porto é o principal projeto da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês), também conhecida como Nova Rota da Seda, da China na América Latina. Pequim está, portanto, remodelando a infraestrutura do comércio global para atender aos seus interesses. Na América Latina, 22 dos 33 países assinaram um acordo do BRI com a China.

Pequim agora quer que o Brasil também assine esse acordo. Na cúpula do G20 em Brasília, em novembro, o presidente Xi quer apresentar esse acordo como o mais recente triunfo do comércio exterior para marcar o 50º aniversário das relações sino-brasileiras.

O governo Lula ainda está hesitante. A pergunta que está sendo feita em Brasília é como um acordo melhoraria as boas relações entre os dois países. No entanto, importantes representantes do PT há muito tempo pressionam para que o Brasil participe da iniciativa do BRI.

Como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento – o “Banco do Brics” em Pequim – Dilma Rousseff também gostaria de anunciar grandes projetos de investimento para a infraestrutura do Brasil até o final de seu mandato, em julho de 2025. Uma ferrovia ou uma estrada para o Oceano Pacífico até o novo porto chinês no Peru poderiam ser um deles.

 

Negociações com Uruguai

Já no Uruguai, a China atua como um agente que está aproveitando as negociações vacilantes sobre uma zona de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul para avançar com seu próprio acordo com a maior comunidade econômica da América do Sul. O Uruguai e a China assinaram um memorando de entendimento para uma futura comunidade econômica entre os dois países.

Tal acordo significaria o fim do Mercosul em sua forma atual. Isso porque o Uruguai é membro e teria que deixar o bloco. Em Montevidéu, dependerá das eleições de novembro se a política favorável à China do atual governo será mantida.

A organização Brics, que é cada vez mais dominada pela China, também poderia anunciar a admissão de novos membros da América do Sul em sua reunião na Rússia no final de outubro. A Venezuela e a Bolívia, em particular, estão ansiosas para entrar. Isso aumentaria significativamente a influência da China na América do Sul – e reduziria a do Brasil. Pois ambos os países, que estão mais ou menos isolados na política global, seriam valorizados internacionalmente – e precisariam cada vez menos do apoio do Brasil.

Tudo indica que neste ano a China conseguirá fazer progressos políticos importantes na América do Sul. A Europa, em especial, sentirá isso como um obstáculo político e econômico. E no Brasil? Nele, a influência crescente da China não chega a ser tematizada, nem na política, nem na sociedade. Ninguém em Brasília, Rio ou São Paulo parece estar incomodado com o fato de que a influência de Pequim vem crescendo rapidamente.

====================

Há mais de 30 anos o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.

You may also like

Em nove meses, Alagoas registra mais de 5.500 novos microempreendedores individuais

Hoje, são cerca 127 mil empreendedores em todo