Mercados de Natal alemães enfrentam incerteza na pandemia

Mercados de Natal alemães enfrentam incerteza na pandemia

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Sabine Kinkartz | Peter Hille

Disparada nas infecções por covid forçou o cancelamento de muitos mercados de Natal. Em algumas regiões onde as taxas são menores, autoridades os liberaram com regras. Mas elas podem mudar a qualquer momento.

Na praça central de Munique, a Marienplatz, uma conhecida melodia de uma canção popular bávara pode ser ouvida. Os turistas pegam seus celulares em um dia de novembro de céu límpido para fotografar o famoso relógio Glockenspiel, que fica no prédio da prefeitura da capital da Baviera.

O brasileiro Matheus Couto, de 29 anos, é um dos que tentam registrar uma boa imagem. Ele é estudante de pós-graduação na cidade de Göttingen, que fica na região central da Alemanha. “Fiquei cinco horas no trem para chegar aqui. E adoraria ter visto o maravilhoso Christkindlmarkt de Munique”, afirmou.

Infelizmente, Couto terá que voltar uma outra vez. Neste ano, o tradicional mercado de Natal foi cancelado por causa da pandemia de covid-19. Tudo o que resta para ele ver são peças de madeira do mercado, que agora aguardam para ser retiradas até tempos mais felizes. Algumas ainda estão decoradas com bolas de Natal vermelhas ou ramos de pinheiro solitários. Em anos normais, até 3 milhões de pessoas visitam o mercado para comprar presentes e aquecer as mãos com um delicioso vinho quente.

“Me pergunto por que eles não cercaram a área para as pessoas que podem provar que estão totalmente vacinadas”, disse Couto. Mas isso não irá acontecer. Não em Munique. Nem em outras cidades da Baviera, incluindo Nuremberg, que também ostenta seu famoso Christkindlmarkt, que normalmente atrai visitantes de locais tão distantes como o Japão.

Foto mostra Matheus Couto em primeiro plano, com prédio histórico de Munique ao fundo.
O brasileiro Matheus Couto viajou cinco horas de trem até Munique e ficou sem ver o mercado de NatalFoto: Peter Hille/DW

Trabalhadores de temporada temem por seu sustento

A Baviera e a vizinha Saxônia são os estados alemães mais afetados pela atual onda da pandemia. As taxas de infecção em algumas áreas dispararam, levando à imposição de lockdowns. “Concluímos que haveria muito contato entre as pessoas, não importa como você tentasse controlar”, disse Markus Söder, governador da Baviera, após o anúncio de que os mercados seriam fechados. Söder afirmou que, com os clubes e bares também fechados, ainda mais pessoas se juntariam às multidões que se reúnem nos mercados de Natal: “Sentimos muito. Especialmente por aqueles que trabalham nas bancas”.

Figuras de anjos, estrelas e pequenas árvores são normalmente as principais atrações oferecidas na banca de Christian Schöttl no Christkindlmarkt de Munique. Mas não desta vez. Ele diz à DW que tinha acabado de começar a montar o estande quando soube que era hora de desmontá-lo.

“Quando a ordem de cancelamento foi anunciada, estávamos todos juntos na praça do mercado, esperando e orando”, disse. “E mesmo alguns dos homens que operam nossos veículos de transporte pesado tinham lágrimas nos olhos. Afinal, a maioria deles não tem a menor ideia de como vão sustentar suas famílias”.

Foto externa mostra banca natalina com decorações de Natal e luzes.
Em um ano normal, a banca de Christian Schöttl, que vende decorações de Natal, é cheia de brilhoFoto: Privat

Schöttl vem de uma família com longa tradição de trabalhar nas bancas do mercado de Natal. “Minha avó costumava dizer: ‘Sempre poupe algo'”, afirmou. “E tenho que dizer, desta vez as coisas estão ficando muito apertadas. Muito apertadas, mesmo.” Não há muita procura na internet para comprar decorações de Natal. “É uma sensação muito diferente quando você compra essas coisas em um mercado de Natal”, disse, “onde as bancas estão brilhando e você pode sentir o cheiro do vinho quente”. Quando o mercado de Natal do ano passado foi cancelado, Schöttl tentou a sorte na internet. Seu faturamento com as vendas foi de 1.100 euros (R$ 7 mil).

Agora, ele se pergunta como irá sobreviver. “Porque você também tem que considerar que não haverá Oktoberfest no ano que vem. E talvez haja outras novas variantes do coronavírus. Então, quando veremos o dinheiro entrando? Estamos realmente com medo.”

Pesadelo logístico

Enquanto os mercados de Natal estão sendo cancelados em algumas partes da Alemanha, em outros lugares os eventos festivos foram mantidos, embora com restrições. Haverá controles sobre quem pode entrar nos mercados. O acesso em geral só será permitido sob a regra 2G (em alemão, geimpft ou genesen: vacinados ou recuperados), o que significa que todos os adultos devem apresentar comprovante de vacinação completa ou de ter se recuperado da covid.

A cidade de Aachen, por exemplo, fica próxima às fronteiras da Alemanha com a Holanda e a Bélgica, e também atrai visitantes do exterior. Aqui fica claro por que qualquer regra de entrada controlada é quase impossível de ser aplicada. Para começar, há nada menos do que 115 bancas de madeira espalhadas pelo grande centro histórico da cidade. São acessíveis por todos os lados e atraem até 1,5 milhões de visitantes em um ano normal.

Em Aachen, placas informam que vale no mercado a regra 2G.
Em Aachen, placas informam que vale no mercado a regra 2G. Somente vacinados e recuperados podem entrar.Foto: Sabine Kinkartz/DW

A regra 2G está em vigor no mercado de Natal de Aachen, mas como ele não é realizado em um único lugar com portões de entrada e há exceções (especialmente para crianças e adolescentes), as autoridades só podem realizar verificações no local de forma aleatória. A polícia e outros funcionários de segurança podem vistoriar as áreas entre as bancas, mas o objetivo dos organizadores é manter o máximo possível do clima tradicional. Claro, ainda haverá o aroma doce do vinho quente, com canela e amêndoas torradas. E os visitantes poderão passear entre os estandes.

Na área dos restaurantes, onde as pessoas podem se sentar em mesas e comer juntas, os procedimentos serão muito mais rígidos. Aqui, os visitantes terão que apresentar sua identidade e comprovante de vacinação ou recuperação. “Eles receberão uma pulseira branca, que permitirá a entrada em todas as zonas de restaurantes do mercado”, diz um dos seguranças. “Mas não estou autorizado a ajudá-los a colocá-la”, acrescenta ele, antes de atender outro visitante. Os seguranças também não irão verificar se as pulseiras possam ter sido talvez repassadas a outros que talvez não estejam vacinados.

Regras incertas, futuros incertos

“Tenho que colocar minha máscara de novo agora?”, pergunta uma mulher ao marido depois que cada um deles terminou de comer uma Bratwurst. Nenhum deles tem certeza, e as placas que esclarecem os regulamentos não estão facilmente visíveis.

As placas originais foram impressas em alemão, inglês, francês e holandês para garantir a clareza e o cumprimento das normas. Mas assim que foram afixadas já estavam desatualizadas, porque as autoridades de Aachen decidiram aliviar as restrições para os menores de 18 anos, o que significava que toda a sinalização tinha que ser atualizada e reimpressa.

Foto mostra Rolf Gerrards em frente a banca de Natal.
Rolf Gerrards, que comanda um restaurante, pode servir o último vinho quente às 21h. Depois, precisa fechar.Foto: Sabine Kinkartz/DW

Esse monte de regras irá funcionar? “A maioria das pessoas que trabalham nas bancas estão preocupadas que elas não ficarão abertas até a véspera do Natal”, diz Rolf Gerrards, que comanda o Hütte 16, um grande e popular restaurante entre as bancas do mercado. “As taxas de infecção estão subindo e subindo”, diz ele com um tom ansioso.

Em anos normais, o Hütte 16 pode atender cerca de 170 pessoas, e três vezes mais pessoas tentam comer no local, onde as principais atrações são o goulash de carne marinada e, é claro, o vinho quente. Nesta temporada, os clientes só podem entrar no restaurante depois de esperar em uma longa fila. Parece que muitas pessoas já estão tentando aproveitar a atmosfera natalina, porque ela pode não durar.

Pouca tolerância com os anti-vacina

De volta à praça Marienplatz em Munique, os sinos do famoso relógio Glockenspiel estão badalando. Na torre dos sinos, figuras de homens vestindo jaquetas vermelhas e bonés verdes podem ser vistas executando a Schäfflertanz, uma dança tradicional bávara. Diz a lenda que essa dança teve origem em tanoeiros locais, que usavam vestidos festivos e dançavam nas ruas para trazer a animação de volta à cidade depois de ela ter sido dizimada pela peste no século 16.

Foto mostra detalhe de decoração de Natal.
Bancas da feira de Natal de Munique aguardam para serem desmontadasFoto: Peter Hille/DW

Enquanto isso, longe das bancas agora vazias, uma longa fila se forma. Dezenas de pessoas estão tentando entrar no centro de vacinação que fica no prédio da prefeitura. Erika Aigner, de 82 anos, disse que estava esperando há duas horas. “Recebi a segunda dose da vacina em março”, afirmou. “Isso foi há oito meses. E está na hora de um reforço. Mas meu médico não pôde me oferecer um horário até o início de dezembro.”

Levará mais uma hora até chegar a sua vez. Com as taxas de infecção subindo, ela disse que a decisão de cancelar o mercado de Natal não era uma surpresa. “Mas o que não entendo são todas essas pessoas que se recusam a se vacinar. Chega uma hora que basta.”

Mercados de Natal alemães espalhados pelo mundo

Feiras natalinas inspiradas no modelo alemão encantam visitantes de Xangai a Vancouver. Especialidades como Bratwurst e Glühwein ajudam a compor o cenário.

Foto: picture-alliance/dpa/Johanna Durnbaugh

Árvore de Natal com luzes e barraquinhas em uma praça à noite.

Mercado de Natal de Frankfurt, Birmingham, Inglaterra

O maior mercado de Natal inspirado no modelo alemão fora da Alemanha e da Áustria fica na segunda maior cidade do Reino Unido. De meados de novembro à véspera do Natal, visitantes encontram nas mais de 120 barraquinhas artigos de artesanato, amêndoas torradas e o icônico “Glühwein” (vinho quente). Durante o período de abertura do mercado, o centro da cidade é iluminado por luzes natalinas.

Foto: CC BY-NC-ND 2.0/Nathan Reading

Rua com luzes natalinas à noite.

Mercado alemão de Natal, Sapporo, Japão

No mercado de Natal de Sapporo, cidade com dois milhões de habitantes no norte do Japão, visitantes podem comprar enfeites natalinos e canecas comemorativas. O tradicional “Weihnachtsmarkt” começou a ser realizado na cidade em 2002, para celebrar os 30 anos da parceria entre Sapporo e Munique, na Alemanha.

Foto: picture-alliance/dpa/Jiji Press

Visitantes olham barraquinhas com artigos natalinos

Mercado de Natal do Menino Jesus, Chicago, EUA

Chicago tem um dos mais antigos mercados de Natal alemães nos EUA. Há mais de 20 anos, a cidade se inspirou em Nurembergue e decidiu montar seu próprio Mercado do Menino Jesus (“Christkindlmarket”). Todos os anos, mais de um milhão de pessoas visitam o mercado para ver a árvore gigante decorada e iluminada. Para a cerimônia de inauguração, o “Menino Jesus” de Nurembergue costuma viajar para lá.

Foto: picture-alliance/dpa/Johanna Durnbaugh

Árvore de Natal iluminada em uma praça com barraquinhas.

Mercado de Natal de Vancouver, Canadá

Os organizadores dizem que este mercado de Natal “traz a tradição festiva do Velho Mundo” à costa oeste do Canadá. Além do “Glühwein”, encontra-se também cerveja alemã de barril. Os visitantes podem participar de uma caça ao tesouro pela vila europeia natalina, conhecer os mascotes do mercado, Holly e Jolly, ou comprar enfeites de Natal.

Foto: CC BY-NC-ND 2.0/Dave Shea

Bolas de Natal enfeitam barraquinhas.

Mercado de Natal à margem do Rio Tâmisa, Londres, Inglaterra

A capital do Reino Unido tem muitos mercados de Natal. Um deles está localizado na margem sul do Rio Tâmisa. Objetos de arte e artesanato são vendidos nas barraquinhas de madeira, e os visitantes também podem degustar a típica Bratwurst. O jornal britânico “The Guardian” escreveu que, apesar de os mercados de Natal serem relativamente novos no Reino-Unido, sua popularidade vem crescendo.

Foto: picture-alliance/dpa/C. Donhauser

Mercado de Natal em Londres às margens do Rio Tâmisa.

Mercados de Natal em Xangai, China

O número de mercados de Natal na metrópole chinesa vem crescendo a cada ano. Muitos deles têm suas barraquinhas construídas como na Alemanha, com direto a Glühwein e aos calendários de Advento. Mas, ao contrário do que acontece na Alemanha, aqui os visitantes têm de pagar a entrada para poder aproveitar a festa.

Foto: CC BY-NC-ND 2.0/xi zhou

Duas crianças de mãos dadas andando pelo mercado de Natal em Xangai.

Mercado de Natal do Menino Jesus, Leeds, Inglaterra

Estes pequenos bonecos de madeira são encontrados no mercado de Natal de Leeds. E para se aquecer depois das compras, há o “Kuh Stall” (estábulo das vacas) com bebidas quentes e comidas. O “café da manhã do Papai Noel” é o destaque para as crianças durante os fins de semana. Os visitantes são recebidos por duendes e o bom velhinho vai de mesa em mesa presentear as crianças.

Foto: CC BY-NC 2.0/The Style PA

Pequenos bonecos de madeira

Mercao de Natal da Union Square, Nova York, EUA

Há mais de 25 anos os nova-iorquinos estão acostumados a mesclar a emoção do Natal com um toque internacional. A cidade que nunca dorme tem diversos mercados de Natal, sendo que alguns deles oferecem especialidades da culinária alemã, como amêndoas torradas ou “Lebkuchen”. A única coisa que você não encontrará ali é o “Glühwein”, já que o consumo álcool em público é proibido em quase todo país.

Foto: picture-alliance/Photoshot

Compradores parados em frente a barraquinhas de artigos de artesanato.

Mercado de Natal de Edimburgo, Escócia

Na capital da Escócia, especialidades alemãs e locais são encontradas no tradicional mercado de Natal. Depois de comprar presentes e degustar os típicos “Bratwurst” e “Glühwein”, o visitante pode finalizar a visita com um uísque escocês. Saúde e feliz Natal!

Foto: CC BY-NC-ND 2.0/Ross G. Strachan

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