Por economista José Ribeiro Toledo Filho
INTRODUÇÃO
Diversos estudos e artigos já foram escritos sobre o iminente esgotamento das atuais reservas de petróleo e gás natural, gerando bastante inquietação quanto à normalidade do abastecimento no longo prazo, por serem as duas principais fontes de suprimento de energia.
Um dos estudos mais importantes sobre o tema foi elaborado pelo conceituado MIT (Massachusetts Institute of Technology), contratado pelo clube de Roma, para avaliar os impactos relacionados ao meio ambiente, em função do uso excessivo do petróleo e do gás natural, dentre outras fontes poluentes.
O clube de ROMA é um grupo que foi formado em 1968, tendo nos seus quadros a elite intelectual de diversos países e segmentos da sociedade organizada (políticos, acadêmicos, empresários, entre outros), para debater e contratar estudos sobre temas de interesse relevante.
O trabalho foi concluído e publicado em 1972. O livro vendeu mais de 30 milhões de cópias, tornando-se o mais vendido da história sobre o tema: meio ambiente.
O MIT chegou à conclusão de que o PLANETA TERRA não suportaria o crescimento populacional devido à pressão gerada sobre os recursos naturais energéticos.
As conclusões, entretanto, se mostraram muito equivocadas ao longo dos anos.
Diversos outros ensaios e previsões sobre o tema já foram bastante explorados, em especial sobre petróleo, gás e carvão, sempre com abordagens futuras negativas. Todas falharam.
Teoria importante e muito conhecida no meio acadêmico, sobre o tema do abastecimento alimentar, foi desenvolvida por THOMAS MALTHUS, intelectual anglicano, no final dos anos 1700, sobre o descompasso entre o “crescimento populacional” e a possibilidade da “produção de alimentos”.
MALTHUS afirmava que o crescimento da população se daria a taxas geométricas e o crescimento da oferta de alimentos em ritmo aritmético. Em poucos anos estaria instalada uma grande crise de alimentos na humanidade.
Trata-se de uma abordagem em área aparentemente distinta, porém guarda estreita correlação no plano das previsões em tema muito sensível como o da energia.
Foi, mais uma vez, uma teoria não validada.
A tecnologia, o uso de fertilizantes e insumos modernos, modificou o curso da história.
Um dos grandes problemas da humanidade hoje, não é a falta de alimentos, reside sim na obesidade e suas consequências.
–
Passaremos agora a examinar algumas informações estatísticas, fundamentais para solidificar uma opinião sobre as fontes de energia hoje utilizadas, suas disponibilidades na linha do tempo e possibilidades objetivas de substituição das fontes fósseis por renováveis.
O foco de nossa abordagem será examinar a composição da MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL e a evolução da sua composição, no período compreendido entre os anos de 2000 a 2020 e expectativas futuras.
MATRIZ ENERGÉTICA: CONCEITO
A consolidação de todas as fontes primárias utilizadas para a produção de diversas formas de energia, denomina-se “MATRIZ ENERGÉTICA”.
Uma grande parte das fontes utilizadas para a obtenção de energia é de origem não renovável (fóssil), a exemplo do petróleo, do gás natural, do carvão mineral e do urânio.
As demais fontes são de origem renovável, notadamente a biomassa, a hidroeletricidade, a eólica, a solar, dentre outras.
A utilização de diversas formas de energia, para gerar eletricidade, a fim de abastecer as indústrias, as residências, a iluminação pública, entre outros setores, denomina-se “MATRIZ ELÉTRICA”.
Em consequência, a matriz elétrica é um subconjunto da matriz energética.
No decorrer dessas duas últimas décadas, o esforço desenvolvido pelos governos para tornar a energia renovável mais presente na composição da matriz energética ainda não resultou em avanços significativos.
As notícias veiculadas pelos meios de comunicação e muito verbalizadas pelos ambientalistas, transmitem a impressão que as energias renováveis, notadamente a fonte eólica e solar, já ocupam lugar de destaque na composição da matriz energética.
Trata-se, porém, de uma narrativa que não corresponde à realidade.
No decorrer dos últimos 18 anos, de 2002 a 2020, a participação relativa das energias renováveis, na composição da matriz energética mundial, manteve sua posição praticamente inalterada.
É certo que a contribuição em valores absolutos das fontes de energias renováveis tem aumentado nos últimos anos, em resposta ao crescimento da demanda total de energia.
Por outro lado, a participação relativa das energias renováveis, no conjunto da matriz energética mundial, corresponde basicamente à participação da biomassa e da hidroeletricidade.
MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL |
– |
1990 |
2002 |
2010 |
2020 |
Petróleo e derivados |
36,9% |
34,9% |
35,3% |
31,5% |
Gás natural |
19,0% |
21,2% |
20,9% |
22,8% |
Carvão Mineral |
25,3% |
23,5% |
24,1% |
27,1% |
Nuclear |
6,0% |
6,8% |
6,4% |
5,0% |
Biomassa |
10,3% |
10,9% |
9,9% |
9,3% |
Hidroeletricidade |
2,1% |
2,2% |
2,1% |
2,5% |
Outras renováveis |
0,4% |
0,5% |
1,3% |
2,0% |
Não Renovável |
87,2% |
86,4% |
86,7% |
86,2% |
Renovável |
12,8% |
13,6% |
13,3% |
13,8% |
FONTE: IEA – Agência Internacional de Energia |
A produção de energia renovável proveniente da biomassa está muito correlacionada com a produção do ETANOL, tendo como matéria prima o milho e a cana de açúcar. No caso da cana de açúcar, além do etanol, aproveita-se também o bagaço e resíduos da palha para cogeração de energia elétrica. Os principais produtores de etanol são os Estados Unidos e o Brasil que, juntos, respondem por mais de 90% da produção mundial.
Somente a título comparativo, adicionamos a informação contendo os dados da matriz energética do Brasil.
BRASIL: MATRIZ ENERGÉTICA |
|
2012 |
2020 |
Petróleo e derivados |
39,2% |
33,1% |
Gás natural |
11,5% |
11,8% |
Carvão mineral |
5,4% |
4,9% |
Energia Nuclear |
1,5% |
1,3% |
Outras n/ renováveis |
– |
0,6% |
Derivados da cana de açúcar |
15,4% |
19,1% |
Hidroeletricidade |
13,8% |
12,6% |
Lenha e carvão vegetal |
9,1% |
8,9% |
Outras renováveis |
4,1% |
7,7% |
NÃO RENOVÁVEIS |
57,6% |
51,7% |
RENOVÁVEIS |
42,4% |
48,3% |
Fonte: EPE- Empresa de Pesquisa Energética – MME
FONTES DE ENERGIA PRIMÁRIA
1. PETRÓLEO
As reservas provadas de petróleo, no período compreendido entre 2000 a 2020, evoluíram de acordo com os números abaixo registrados:
VALORES EM BILHÕES DE BARRIS |
PAÍSES |
2000 |
2010 |
2020 |
Venezuela |
76,8 |
296,5 |
303,8 |
Arábia Saudita |
262,8 |
264,5 |
297,5 |
Canadá |
18,3 |
175,2 |
168,1 |
Irão |
93,1 |
151,2 |
157,8 |
Iraque |
115,0 |
115,0 |
145,0 |
Rússia |
59,6 |
86,6 |
107,8 |
Kuwait |
96,5 |
101,5 |
101,5 |
Emirados Árabes |
97,8 |
97,8 |
97,8 |
Estados Unidos |
30,4 |
30,9 |
68,8 |
Líbia |
36,0 |
47,1 |
48,4 |
Nigéria |
29,0 |
37,2 |
36,9 |
Cazaquistão |
25,0 |
30,0 |
30,0 |
China |
17,9 |
14,8 |
26,0 |
Catar |
13,1 |
24,7 |
25,2 |
Brasil |
8,5 |
14,2 |
11,9 |
Outros |
127,2 |
134,9 |
105,9 |
Total Mundo |
1.104,5 |
1.622,1 |
1.732,4 |
Fonte: ANP- Anuário Estatístico Petróleo e Gás
No decorrer do período entre 2000 e 2020, a produção de petróleo evoluiu de acordo com os números registrados na tabela abaixo:
VALORES EM BILHÕES DE BARRIS |
ANOS |
PRODUÇÃO |
M. MÓVEL |
ÍNDICE |
2000 |
27,32 |
– |
– |
2001 |
27,30 |
27,26 |
100,00 |
2002 |
27,17 |
27,52 |
100,95 |
2003 |
28,10 |
28,19 |
103,41 |
2004 |
29,29 |
29,00 |
|
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