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22 outubro 2020
CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,Para a OCDE, ‘ao lidar com a globalização, esta geração precisará de novas habilidades. Seja em ambientes de trabalho tradicionais ou empreendedores, os jovens precisarão colaborar com pessoas de diferentes disciplinas, culturas e sistemas de valor, de modo a resolver problemas complexos e criar valor social e econômico’
Os estudantes secundaristas brasileiros mantêm, em média, pouco contato com pessoas de outros países, são mais monoglotas (ou seja, falam um idioma só) e declaram ter menos conhecimento sobre questões globais do que alunos de outros países mensurados pela OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Esse descolamento pode ser uma barreira adicional para estudantes brasileiros desenvolverem plenamente o que a organização chama de “competências globais”, cada vez mais necessárias em um mundo mais competitivo e cujos desafios superam as fronteiras nacionais — como pandemias e mudanças climáticas. A avaliação da OCDE foi feita por meio de questionários aplicados em 2018 durante o exame internacional Pisa, que mediu os conhecimentos de leitura, ciências e matemática de 600 mil estudantes de 15 anos em 79 países-membros, economias ou países parceiros da OCDE (caso do Brasil). Pela primeira vez, em caráter experimental, a organização perguntou aos estudantes o quanto eles sentem ter conhecimento (e iniciativa para agir) sobre problemas globais, seu contato com imigrantes e outras culturas, sua habilidade em falar outras línguas e sua aprendizagem sob perspectivas diferentes das suas próprias. O material sobre “competências globais” foi publicado em relatório nesta quinta-feira (22/10), intitulado Os estudantes estão prontos para prosperar em um mundo interconectado?. Pule Talvez também te interesse e continue lendo
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Fim do Talvez também te interesse O relatório não traz nenhum tipo de ranking dos países participantes, e análises das diferentes perguntas permitem diferentes conclusões sobre o grau de interconectividade dos estudantes de cada nação. Mas, segundo a OCDE, trata-se de uma iniciativa inicial para mensurar a capacidade dos estudantes do mundo em “1) analisar questões de significância local, global e cultural; 2) entender e levar em consideração as visões de mundo dos demais; 3) engajar-se em interações interculturais abertas, apropriadas e eficientes; e 4) ser capaz de agir pelo bem-estar coletivo e pelo desenvolvimento sustentável”. Para Andreas Schleicher, chefe de educação da OCDE, “ao lidar com a globalização, esta geração precisará de novas habilidades. Seja em ambientes de trabalho tradicionais ou empreendedores, os jovens precisarão colaborar com pessoas de diferentes disciplinas, culturas e sistemas de valor, de modo a resolver problemas complexos e criar valor social e econômico”. As respostas dos estudantes do Brasil![]() CRÉDITO,GETTY IMAGES Legenda da foto,’Competências globais’ de alunos de diversos países foram analisadas por meio de questionário aplicado durante o Pisa 2018
Cerca de 11 mil estudantes na faixa dos 15 anos participaram do Pisa 2018 e, por consequência, do questionário sobre interconectividade. E eles estão no grupo de estudantes com menos proximidade com pessoas de outros países: enquanto em lugares como Albânia, Alemanha e Grécia ao menos 70% dos estudantes disseram ter contato com estrangeiros, essa porcentagem foi de 20% a 30% em Brasil, Argentina, México, Turquia e Vietnã. No Brasil, pouco mais de um terço dos estudantes afirmaram falar mais de um idioma, índice só maior do que Coreia do Sul, México, Colômbia e Vietnã. Em comparação, mais de 90% dos estudantes da Croácia, da Estônia e de Hong Kong afirmaram serem capazes de se expressar em mais de um idioma. Segundo a OCDE, existe uma associação “positiva e significativa” entre contato com estrangeiros e domínio de outras línguas com a atitude dos estudantes, em sua “adaptabilidade cognitiva, sua (percepção de) autoeficiência sobre temas globais e seu interesse em aprender sobre outras culturas, seu respeito por pessoas de outras culturas e sua capacidade de ver sob diferentes perspectivas”. Mesmo no Brasil, quanto mais os estudantes tinham conhecimento de outros idiomas, mais demonstravam ter consciência de questões relevantes globalmente. É bom fazer a ressalva de que, à diferença de muitos países participantes do questionário da OCDE, o Brasil é um país de dimensões continentais, com um único idioma oficial, e uma presença de imigrantes recentes relativamente pequena ao seu tamanho. Dito isso, os estudantes brasileiros tiveram uma média muito inferior à da OCDE no quesito “consciência sobre assuntos globais”. A entidade mediu isso perguntando aos estudantes o quão familiarizados eles estavam a temas como aquecimento global, conflitos internacionais, desnutrição, causas da pobreza e igualdade entre homens e mulheres. Alunos de Albânia, Lituânia e Grécia foram os que se autodeclararam mais capazes de responder sobre esses assuntos. Já o Brasil ficou em 53° entre os 65 países que participaram desse ponto do questionário. Assim como em outros pontos da pesquisa, a OCDE encontrou aqui uma forte correlação entre o status socioeconômico dos estudantes e sua consciência sobre assuntos globais: os estudantes de classes sociais mais prósperas tinham mais conhecimento sobre esses assuntos do que seus pares mais pobres, tanto no Brasil como em outros países. ![]() CRÉDITO,GETTY IMAGES Legenda da foto,Brasileiros estão entre estudantes com menos contato com pessoas de outros países e com menos conhecimento de outros idiomas
“Essas diferenças em conscientização relacionadas ao status socioeconômico podem ser resultado de um acesso desigual a oportunidades na escola, de aprender sobre assuntos globais”, diz o relatório. A OCDE também perguntou aos professores dos estudantes se eles sentiam necessidade de desenvolvimento profissional para ensinar em um segundo idioma e em um ambiente multicultural. Entre todos os países participantes, os professores do Brasil foram os que mais responderam “sim” às duas perguntas. Em compensação, mais de 75% dos alunos brasileiros estudavam em escolas que realizavam celebrações e festivais de outras culturas, índice bem superior ao de 35% dos países da OCDE. Em todos os países pesquisados, quanto mais prazer os estudantes tinham na leitura, mais eles tinham consciência sobre assuntos globais — provavelmente porque a leitura prazerosa aumentava a chance de esses alunos ganharem mais conhecimentos e serem expostos a diferentes fontes de informação. Para Schleicher, da OCDE, a escola tem um papel fundamental em ajudar os estudantes a pensar e aprender de modo autônomo e a ampliar sua compreensão de outras culturas, tradições, modos de vida e formas de pensar. “A habilidade de ler e entender a diversidade e de reconhecer valores liberais centrais de nossas sociedades, como tolerância e empatia, pode ajudar a responder ao extremismo e à radicalização”, afirmou ele. “Atitudes abertas e flexíveis serão vitais para os jovens coexistirem e interagirem com pessoas de outras fés e outros países. Também o serão os valores humanos comuns que nos unem.” ![]() Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal! Pule YouTube post, 1
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