Pager, fax, cheque: Os objetos obsoletos que ainda estão sendo usados pelo mundo

Pager, fax, cheque: Os objetos obsoletos que ainda estão sendo usados pelo mundo

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Gareth Evans e Roland HughesDa BBC News
Mulher com aparelho de som na Inglaterra, em 1997Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionAs fitas cassete estão tendo um revival, mesmo que não seja para ouvi-las naqueles enormes aparelhos de som que eram carregados nos ombrosOs pouco japoneses que ainda usavam pagers provavelmente se lamentaram na semana passada, quando a última empresa provedora do serviço no país, Tokyo Telemessage, anunciou seu fim. Ao mesmo tempo, muitos devem ter se perguntado: espere, ainda existem pagers por aí?

A Tokyo Telemessage tinha ainda 1,5 mil clientes, a maioria deles profissionais de saúde. O único assinante privado era Ken Fujikura, que mantinha seu pager ativo para se comunicar com sua mãe, de 80 anos. “Como só a minha mãe tinha o número do pager, eu sabia que (a notificação do pager) era da minha mãe”, disse ele ao site Nikkan-spa.

E fora do Japão, será que tem gente que ainda usa tecnologias aparentemente tão obsoletas, que jovens hoje em dia talvez fossem sequer capazes de reconhecê-las? Veja a seguir:

1) Pagers

PagerDireito de imagemGETTY IMAGESImage captionPager continua popular entre funcionários britânicos do setor de saúde públicaPresentational white spaceComo ele funciona?

O pager (que no Brasil também era chamado de bipe) é como um pequeno receptor de rádio portátil, popular entre as décadas de 1980 e 90. Cada usuário tem um código próprio, que as pessoas acionam para mandar-lhe uma mensagem. A mensagem aparece na tela do pager.

Ele continua em uso?

Só o NHS, serviço público de saúde britânico (equivalente ao SUS brasileiro), tem 130 mil pessoas usando pagers, equivalente a 10% do total de pagers remanescentes no mundo. Um estudo de 2017 apontou que 80% dos hospitais britânicos ainda recorrem a esses aparelhinhos.

Mas por quê? Primeiro, porque sua recepção é boa – algo útil em salas que contêm aparelhos de raio-x, os quais bloqueiam sinais de telefone. Além disso, pagers são considerados rápidos em emergências de saúde.

Mas eles não devem durar muito: a NHS promete descontinuar seu uso até 2021 e substituí-los por outro serviço de mensagem.

2) Cheques

Mulher com um chequeDireito de imagemGETTY IMAGESImage captionCheques são mais raros, mas ainda são usados em países como o BrasilPresentational white spaceComo ele funciona?

O mundo caminha para pagamentos feitos diretamente pelo celular, mas tem gente que ainda usa os cheques, um pequeno talão fornecido pelo banco em que cada página é preenchida com os dados do valor do pagamento e (se o cheque for nominal) seu receptor. Este, por sua vez, tem que descontar o cheque no banco.

Ele continua em uso?

Pesquisa feita em 2017 pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) apontava que 8% ainda usavam cheques pré-datados em suas compras, para poder parcelá-las e para poder comprar mesmo sem ter dinheiro.

Nos EUA, em 2015, uma média de 7,1 cheques foram preenchidos por cada domicílio do país. Eles costumam ser usados em pequenas lojas que não aceitam cartões e no pagamento de alguéis imobiliários, por exigência dos próprios senhorios.

No Reino Unido, o plano era ter eliminado os cheques até 2018, mas esse projeto foi abandonado, uma vez que não foram encontradas alternativas viáveis para substituí-los entre usuários idosos (a maioria dos cheques britânicos são preenchidos por pessoas com mais de 65 anos).

Segundo a associação UK Finance, os cheques corresponderam a apenas 0,9% de todos os pagamentos feitos em 2018 no Reino Unido. O número de cheques compensados caiu 75% em dez anos.

Em países como Holanda, Namíbia e Dinamarca, cheques já não são mais aceitos.

3) Fita cassete

Loja de cassetes em Paris, em 1987Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionLoja de cassetes em Paris, em 1987; alguns artistas renomados relançaram suas obras nessa mídiaPresentational white spaceComo ela funciona?

Pessoas com mais de 30 anos devem se lembrar da época em que gravavam em fitas cassete as canções que tocavam na rádio ou em CDs – e também da tristeza quando essas fitas enrolavam e se danificavam permanentemente.

Mas elas tinham sua mágica: imagine um pedaço de plástico pequeno e fino, recheado de fita magnética contendo canções incríveis de Madonna, Prince, George Michael… E cada usuário conseguia gravar sua própria fita!

O cassete tinha lugar cativo nos aparelhos de som caseiros e de carros, bem como em walkmans. Só não adiantava esperar um som de alta qualidade…

Ela continua em uso?

Fita cassete com músicas do MetallicaDireito de imagemGETTY IMAGESImage captionFita cassete com músicas do Metallica; nostálgicos se lembrarão do prazer de gravar as próprias fitasO curioso é que ela não apenas sobreviveu às novas tecnologias, como está vivendo uma espécie de “mini-renascimento”.

No Reino Unido, por exemplo, vendas de fitas cassete atingiram seu maior volume em mais de uma década. Mais de 35 mil exemplares foram vendidos nos primeiros sete meses de 2019, diz a associação fonográfica do país. Não é muita coisa, mas trata-se do sétimo ano consecutivo de alta na venda dessa mídia.

Algo parecido acontece nos EUA, onde, segundo a empresa de pesquisas Nielsen, as vendas de fitas cassete aumentaram 23% em 2018, em comparação com o ano anterior.

O motivo? “Acho que é nostalgia”, diz Ken Brissenden, dono de uma loja online chamada Mr Cassette. “Ela desacelera o processo de desfrutar da música. Pessoas da minha geração gostam do processo de escolher um cassete e ler as informações sobre a banda na capa. Além disso, é mais simples e portátil do que um vinil.”

Brissenden vê não apenas um revival, mas uma “tendência”, depois de celebridades da música como Eminem, Billie Eilish e Kylie Minogue terem lançado álbuns em formato cassete.

4) Tamagotchi

Ilustração de um TamagotchiDireito de imagemGETTY IMAGESImage captionIlustração de um Tamagotchi, pet virtual que foi popular nos anos 1990Como ele funciona?

Trata-se de um “animal de estimação eletrônico”, no formato ovalado. O objetivo do usuário é manter o bichinho vivo.

O Tamagotchi foi lançado no Japão em 1996 e cresceu em popularidade em todo o mundo no ano seguinte. Chegou a ter mais de 40 milhões de unidades vendidas em seus primeiros anos de existência.

Ele continua em uso?

Ironicamente, Tamagotchis se recusaram a “morrer” com o passar do tempo. Em vez disso, eles evoluíram.

Embora as vendas tenham caído bastante, ainda foram vendidas 6 milhões de unidades entre 2010 e 2017.

No ano passado, uma nova geração de Tamagotchis foi lançada. Nela, a antiga tela pixelada dos anos 1990 foi substituída por uma colorida. Os novos Tamagochis podem trocar dados entre si e até mesmo se casar ou procriar. Além disso, eles se reúnem em um fórum online, que discute, por exemplo, quem vai casar com quem e como fazer tributos a “Tamas” que não sobreviveram.

5) Aparelhos de fax

Fila para usar aparelho de fax em aeroporto americano, no ano 2000Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionFila para usar aparelho de fax em aeroporto americano, no ano 2000; tomara que ninguém estivesse com muita pressaPresentational white spaceComo ele funciona?

Se você é jovem o bastante para nunca ter usado – ou mesmo visto – uma máquina de fax, então imagine uma impressora grande que produzia som muito peculiar, semelhante ao de um motor a vapor. Alguns modelos tinham um telefone acoplado.

O aparelho de fax scaneia documentos e os transporta por um sinal, enviado por linha telefônica, a outro aparelho de fax, o qual reproduz o documento enviado e o imprime.

Ele continua em uso?

Sim, principalmente porque a indústria da saúde e alguns departamentos estatais fracassaram em atualizar sua tecnologia.

De novo, o serviço de saúde britânico NHS é um bom exemplo: acredita-se que seja o maior comprador mundial de aparelhos de fax. O governo agora quer que essas máquinas sejam substituídas (possivelmente por e-mails) até o ano que vem.

Além disso, milhões de páginas de fax ainda são enviadas diariamente em países como EUA, Alemanha, Israel e Japão.

“Para muitas pessoas mais velhas que se sentem desconfortáveis com computadores, é mais fácil mandar um fax, além de mais barato e mais familiar”, diz o acadêmico Jonathan Coopersmith, autor de obra sobre a história do aparelho. “Acredito que ele vai continuar em circulação, mesmo que com uma parcela menor da comunicação diária.”

No Japão, inclusive, o fax persiste em grande parte porque a escrita à mão e as cópias impressas são ainda bastante valorizadas. No ano passado, curiosamente, o ministro de ciber-segurança do país admitiu que nunca havia usado um computador até então.

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