Declínio populacional pode atingir China em cheio

Declínio populacional pode atingir China em cheio

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Empresários e analistas alertam que queda do crescimento populacional nas próximas décadas pode provocar uma catástrofe humanitária em países como a China, que contam com redes de seguridade social menos desenvolvidas.

    
Família chinesaGrande parte do crescimento econômico da China nas últimas quatro décadas foi movida pela a força de trabalho jovem, mas essa está em rápido declínio

Quando dois dois empreendedores mais bem-sucedidos do mundo, o CEO da Tesla, Elon Musk, e o fundador do Alibaba, Jack Ma, se encontraram para seu primeiro debate público, eles divergiram em quase tudo. Em um aspecto, porém, ambos concordaram: que o maior problema do futuro seria a escassez de pessoas.

“Muitos acreditam que temos muitas pessoas no mundo, mas, na verdade, essa é uma visão ultrapassada”, disse Musk, durante um painel que participou ao lado de Ma em Xangai, em agosto. “Acredito que o maior problema que o mundo enfrentará em 20 anos é o colapso populacional, não a explosão, e sim o colapso”, ressaltou.

Ma concordou absolutamente com esse ponto de vista. “O problema populacional será um grande desafio. Parece muito 1,4 bilhão de pessoas na China, mas acredito que nos próximos 20 anos, veremos que isso tratará grandes problemas para a China. A velocidade da queda populacional vai acelerar. Agora você [Musk] chamou isso de colapso. Eu concordo”, acrescentou o empresário.

Essas projeções pessimistas são compartilhadas por demógrafos que argumentam que a população mundial deve parar praticamente de crescer até o final deste século, devido em grande parte à queda das taxas de fertilidade global. A África é a única região do mundo projetada para ter um forte crescimento populacional para o resto do século 21.

O think tank Centro de Pesquisa Pew, de Washington, prevê que até 2100 a população mundial chegará a 10,9 bilhões, com um crescimento anual menor do que 0,1% — uma queda drástica em relação às taxas recentes. Entre 1950 e hoje, a população mundial cresceu entre 1% e 2% ao ano, passando de 2,5 bilhões para os atuais 7,7 bilhões.

A população chinesa deve atingir seu pico em 2031, enquanto as populações do Japão e da Coreia do Sul devem diminuir já depois de 2020. Estima-se ainda que a população indiana crescerá até 2059, quando chegará a 1,7 bilhão.

China enfrenta o maior desafio

Segundo Ma, em nenhum outro lugar o colapso populacional será mais acentuado do que na China, o país mais populoso do mundo. Pelo menos, de acordo com dados oficiais. Um dos principais demógrafos chineses, Yi Fuxian, acredita que os números oficiais subestimam o panorama real.

O cientista da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, e autor do livro Big Country with an Empty Nest (Grande país com um ninho vazio, na tradução literal) acredita que a China tem 115 milhões de habitantes a menos do que os dados oficiais, que apontam 1,4 bilhão.

“A China já está atrás da Índia em termos populacionais. As políticas econômica, social, educacional e diplomática chinesas são baseadas em dados demográficos falsos”, afirmou Yi à DW.

A China conduziu a política do filho único para controle populacional por três décadas. Em 2016, essa restrição foi abandonada em prol da política dos dois filhos para aumentar a força laboral. Mesmo assim, os índices de fertilidade no país continuam em queda.

Em 2016, depois do fim da política do filho único, houve 17,86 milhões de nascimentos. Em 2017, esse número caiu para 17,2 milhões e no ano seguinte para 15,2 milhões, alcançado a terceira menor taxa desde a fundação da República Popular da China, em 1949.

Força laboral jovem

Grande parte do crescimento econômico surpreendente da China nas últimas quatro décadas foi movida pela a força de trabalho jovem, mas essa está em rápido declínio, com um aumento dramático da população idosa.

Em 2017, na China, a proporção era de seis trabalhadores entre 20 e 64 anos para cada um com 65 anos ou mais. Em 2039, esse equilíbrio cairá para dois por um e em 2050 para apenas 1,6.

“Nenhuma rede de seguridade social, nenhuma segurança familiar e uma crise de aposentadoria. Isso levará a uma catástrofe humanitária. Como mulheres vivem seis ou sete anos a mais do que homens, elas serão as principais vítimas do controle social”, afirmou Yi.

Claramente, é preciso fazer mais para encorajar as mulheres a terem mais filhos. Casais em países desenvolvidos tendem a ter menos filhos, porém, em grande parte devido aos custos educacionais elevados e à pressão sobre a renda familiar nas cidades.

As taxas médias de fertilidade em Taiwan e Hong Kong passaram de 1,14 para 1,07 entre 2001 e 2018. Essas regiões se inserem na esfera cultural chinesa.

“O melhor caminho para incentivar mulheres a terem mais filho e facilitar e tornar mais barato o acesso a bons cuidados infantis e ao trabalho”, afirmou George Magnus, pesquisador associado no Centro de Estudos Chineses da Universidade de Oxford.

Ficando velho antes de ficar rico

Vivemos num mundo cinza. No ano passado, pela primeira vez, havia mais pessoas com 65 anos ou mais no mundo do que menores de cinco anos. Devido ao ritmo de envelhecimento populacional, a China parece mais fadada a ser torna velha antes de enriquecer.

“Medido pela proporção de idoso com mais de 65 anos e a razão de dependência demográfica, a China envelhecerá tanto nos próximos 22 anos quanto a maioria das economias Ocidentais nos últimos 60 e 70 anos. Isso, porém, com níveis de renda per capita menores e com um sistema de segurança social muito menos desenvolvido”, afirmou Magnus.

Em 2040, a renda per capita na China estará entre 20 mil dólares (82,4 mil reais) e 40 mil dólares (164,8 mil reais), dependendo do desenvolvimento econômico e do crescimento.

A chave para amenizar o envelhecimento populacional na China é aumentar a participação de pessoas mais velhas e mulheres na força de trabalho. Também é preciso olhar para a imigração, que atualmente tem níveis insignificantes no país. Mais acima de tudo isso está a produtividade.

“A alta produtividade é o Santo Graal, mas como alcançá-la? Investimento em novas tecnologias pode ajudar”, afirmou Magnus.

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