“Nem tudo que pode resolver a taxa de juro alta está na mão do Banco Central. Existem temas que precisam de debate público”, diz Galípolo

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Presidente do BC reconhece sinais da economia, mas vê inflação ainda longe da meta e promete manter “dose alta de remédio” por bastante tempo

Monique Lima
Monique Lima
29 de setembro de 2025

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Presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo – Imagem: Lula Marques/Agência Brasil
WhatsappTwitterLinkedinFacebookTelegramPara o presidente do Banco CentralGabriel Galípolo, a missão da autoridade monetária é clara: trazer a inflação para a meta de 3% ao ano. A estratégia escolhida é manter a taxa de juros em 15% ao ano por um período prolongado — e, na visão dele, essa é a forma mais acertada de cumprir o objetivo.

“Não tem atalho. Quando você pega um caminho mais curto, a volta fica mais longa e te afasta do objetivo. Tenho repetido, é um momento de serenidade e persistência. O processo é esse. O primeiro desafio foi aumentar, agora é manter”, afirmou Galípolo durante o evento Itaú BBA Macro Vision, nesta segunda-feira (29).

Segundo o presidente do BC, a instituição acompanha de perto a divulgação de todos os dados da economia para entender o cenário do país. Ele reconheceu que alguns indicadores já apontam impactos relevantes na inflação e na atividade econômica, mas avaliou que o conjunto ainda não é consistente para iniciar o ciclo de queda dos juros.

Na sua leitura, o mercado de trabalho brasileiro atravessa a melhor fase em, pelo menos, 30 anos. Ainda assim, ponderou que o índice geral de inflação pode estar dando sinais positivos, mas alguns componentes permanecem “em patamar incompatível com o alcance da meta”.

Novos debates

Galípolo reforçou que elevar o juro básico para 15% ao ano é a ferramenta que está ao alcance do BC para perseguir a meta de inflação. Já explicar por que o Brasil precisa de uma taxa tão alta em comparação com outros países, disse ele, não cabe à autoridade monetária.

“Eu recebo muitos questionamentos sobre por que a taxa de juros no Brasil é tão alta. Na minha visão, essa pergunta está errada. A pergunta deveria ser: por que, com o juro em 15% o mercado de trabalho do Brasil ainda está em pleno emprego?”, provocou.

E brincou: “É como a lei da física para o besouro. Não deveria voar, mas voa”.

O presidente do BC ressaltou que a instituição trabalha com dados reais e projeções a partir das informações disponíveis. Mas nem todos os ajustes necessários para que o Brasil tenha juros mais baixos dependem da autoridade monetária.

“Nem tudo o que deve ser feito para o Brasil ter juros em patamares menores e uma inflação saudável depende do BC. Tem soluções que precisam passar por debate público”, disse, sem detalhar quais seriam esses temas.

No que cabe à política monetária, Galípolo foi enfático: o papel do Comitê de Política Monetária é “manter uma dose alta do remédio por mais tempo”. E completou: “É o que podemos fazer e é o que o BC fará”.

Banco central sem teorias, só dados

Galípolo também descartou revisões metodológicas ou o uso de “probabilidades” nos modelos do BC. Ele citou o debate sobre o juro neutro — o nível em que a economia não acelera nem desacelera — como exemplo. Atualmente, o modelo da instituição trabalha com 5%, mas no ano passado muitos economistas defenderam que o número estaria mais próximo de 8%.

Na visão do presidente do BC, mudar parâmetros com base em dados momentâneos não é saudável e apenas aumenta a volatilidade. “Não cabe ao BC trabalhar com variáveis não observáveis para ajustar o modelo que governa a política monetária do país”, disse.

Ele explicou ainda por que a instituição não incorpora de forma imediata novos dados de inflação, atividade, câmbio e outros indicadores.

“Novos inputs o tempo todo provocam mais dano do que ajudam na leitura. A leitura do Banco Central deve ser abrangente e não pontual. Os dados que chegam são mistos, um melhora e outro piora. Temos que seguir sem se emocionar com dados isolados, mas reunir informações por um tempo adequado”, concluiu.

 

Monique Lima 

monique.lima@seudinheiro.comRepórter de finanças pessoais e investimentos no Seu Dinheiro. Formada em Jornalismo, também escreve sobre mercados, economia e negócios. Já passou por redações de VOCÊ S/A, Forbes e InfoMoney.

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