Luiz Alberto Machado[1]
Em sua coluna no jornal O Estado de S. Paulo do dia 3 de agosto, Claudio de Moura Castro, economista que se especializou em assuntos relacionados à educação, publicou um artigo intitulado ‘Coitado, entrou numa faculdade ruim!’. Inicia o artigo apresentando as seguintes frases fictícias: “Passou em Engenharia na Federal. Está com a vida feita.” “Coitado, entrou numa faculdade caça-níqueis. Vai enriquecer um ‘tubarão do ensino’ e vai se dar mal”.
Ao longo do artigo, sustenta − com base em dados extraídos das estatísticas da Pnad, a clássica pesquisa de domicílios, feita em colaboração com Simon Schwartzman − que indivíduos formados no curso superior, independentemente da qualidade do curso, sempre levarão vantagem, inclusive em termos de rendimento, em comparação com aqueles que não passaram do ensino médio, não possuindo, portanto, diploma de nível superior. Moura Castro utiliza como destaque, para dar ênfase a seu argumento, a frase “Na loteria do destino, as cartas estão marcadas, favorecendo quem decidiu passar mais tempo estudando, não importa onde”.
Na mesma semana, recebi pela rede social um levantamento do The University Journal com a relação das 10 faculdades de Economia mais caras do Brasil em 2025. De acordo com a referida relação, cuja autenticidade dos números fiz questão de aferir, entre elas encontram-se sete localizadas no estado de São Paulo, duas no Rio de Janeiro, e uma em Minas Gerais. Os preços das mensalidades variam de R$ 9.281,00 (FGV-SP) a R$ 4.229,00 (PUC-SP).
Aproveitando a consulta, resolvi pesquisar quais os cursos de Economia mais baratos do Brasil. A constatação é chocante. É possível encontrar de tudo. Desde ofertas de cursos gratuitos, até cursos com mensalidades que “cabem no seu bolso”, cujos valores vão de R$ 49,00, passando por R$ 59,00, R$ 129,00 e por aí vai, alternando cursos presenciais e à distância.
Mesmo sem me basear em pesquisa sistemática, mas valendo-me da experiência adquirida em mais de 35 anos de docência em faculdades de Economia, bem como do acompanhamento da evolução dos cursos como integrante dos órgãos representativos dos economistas, ouso levantar algumas questões a respeito dos elementos aqui apresentados:
1ª – Será que um estudante portador de um diploma obtido numa faculdade de péssima qualidade é mais valorizado e encontra mais possibilidades do que um formado num bom curso médio profissionalizante?
2ª – Será que recrutadores, quer no setor privado quer no setor público, oferecem as mesmas chances a estudantes egressos de faculdades que custam os olhos da cara e àqueles que se formaram em cursos reconhecidamente de baixa qualidade?
Como afirmei, não disponho de dados de pesquisa sistemática para dar resposta precisa a essas questões, mas minha sensibilidade indica uma flagrante desigualdade, favorecendo, nos dois casos, aos melhores cursos: tanto os bons cursos médios profissionalizantes, como os cursos superiores mais caros e, supostamente, de melhor qualidade.
Alinho-me claramente ao Padre Antônio Vieira, que proclamava com enorme sabedoria: ” A boa educação é moeda de ouro. Em toda a parte tem valor.”
[1] Economista, graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Mackenzie, mestre em Criatividade e Inovação pela Universidade Fernando Pessoa (Portugal), é sócio-diretor da empresa SAM – Souza Aranha Machado Consultoria e Produções Artísticas e consultor da Fundação Espaço Democrático. Foi presidente do Corecon-SP e do Cofecon.