Nik Martin
Número elevado de idosos amplia gastos públicos com aposentadorias e reduz força de trabalho na Europa. Países como França e Reino Unido querem aumentar idade mínima dos cidadãos no mercado de trabalho.
Balança desequilibrada: em 2024,o número de pessoas com mais de 65 anos pode superar o número de pessoas com menos de 15 anos na EuropaFoto: K. Schmitt/Fotostand/imago images Anúncio
Pela primeira vez na história, o número de idosos pode superar o de adolescentes na Europa. O envelhecimento da população no velho continente está reduzindo a força de trabalho, ao mesmo tempo em que aumenta os gastos do Estado com os sistemas de aposentadoria pública. Face a uma crescente crise previdenciária europeia, países como a França e Reino Unido estão ampliando a idade mínima para se aposentar, provocando protestos e mexendo também com o mercado previdenciário privado.
Em 2024, a Organização Mundial da Saúde estimou que, pela primeira vez, o número de pessoas com mais de 65 anos superaria o número de pessoas com menos de 15 anos na Europa. Atualmente, mais de um quinto da população da União Europeia (UE) já têm 65 anos ou mais. Espera-se que esse número chegue a um terço até 2050. Como consequência, os economistas preveem que até 2050 haverá menos de dois trabalhadores na Europa para cada aposentado, em comparação com os três atuais.
Mas nem será preciso esperar 25 anos: as consequências do envelhecimento populacional já estão sendo sentidas nas finanças. A conta anual das aposentadorias públicas atingiu mais de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em 17 dos 27 Estados-membros da União Europeia. Na Itália e na Grécia, as pensões custam às finanças públicas mais de 16% do Produto Interno Bruto (PIB).
Mesmo com o aumento da imigração nas duas últimas décadas, o continente ainda precisa atrair mais trabalhadores cujos impostos possam ajudar a cobrir o custo crescente das aposentadorias públicas.

Países aumentam idade mínima para aposentadoria
Vários países europeus estão mudando os sistemas de previdência social, aumentando a idade mínima para alcançar a aposentadoria, como uma solução para a crise. A França, por exemplo, enfrentou meses de protestos no ano passado por tentar tentar fazer os mais velhos trabalharem até aos 64 anos, em vez dos 62 atuais.
O Reino Unido, por sua vez, planeja manter as pessoas trabalhando até os 68 anos a partir de meados da década de 2040. Na Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia e País de Gales), as mulheres costumavam se aposentar cinco a sete anos antes dos homens, mas uma medida para igualar a idade de aposentadoria gerou pedidos de indenização para as mulheres afetadas.
“Os holandeses mudaram recentemente seu sistema de aposentadoria, mas não estão atingindo as metas estabelecidas”, disse Hans van Meerten, professor de direito previdenciário europeu na Universidade de Utrecht, à DW. “Também na Alemanha, na Bélgica e em muitos outros países europeus, não vejo as reformas necessárias acontecendo. Eles estão cavando suas próprias sepulturas.”
Além da pressão sobre as finanças públicas da Europa, milhões de pessoas ainda não estão poupando o suficiente em previdências privadas ou ocupacionais para complementar suas pensões estatais. Dados do ano passado do Eurobarômetro mostram que apenas 23% dos residentes da União Europeia têm um plano de previdência vinculado à empresa na qual trabalham e apenas 19% possuem um produto de previdência pessoal. Os números variam entre os países.
Uma pesquisa realizada pela Insurance Europe constatou que 39% dos entrevistados não estão economizando para a aposentadoria. O número foi ainda maior entre as mulheres e os trabalhadores com mais de 50 anos. Muitos dos que poupam, por outro lado, estão frustrados com os resultados de seus investimentos.