O embarque a vela La Sofia trouxe 388 passageiros de Gênova para trabalharem numa fazenda no Espírito Santo, e inaugurou a fase do afluxo em massa de imigrantes da Itália ao Brasil.
Historicamente, esse é considerado o marco inicial da imigração italiana no Brasil, já que a partir de dali e até 1920 — considerado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) , o “momento áureo do largo período denominado como da grande imigração ” — o país recebeu cerca de 3,3 milhões de imigrantes. E o contingente italiano representava 42% do total.
Se a chegada se deu em 17 de fevereiro, o desembarque dos italianos só começaria quatro dias depois, devido aos procedimentos de quarentena. Por isso, o dia 21 de fevereiro é, oficialmente no Brasil, o Dia Nacional do Imigrante Italiano.
“O desembarque perdurou até o dia 27”, ressalta a antropóloga Evelize Moreira, pesquisadora do Museu da Imigração, de São Paulo.
A efeméride será celebrada por muitos dos hoje cerca de 35 milhões de ítalo-brasileiros — o Brasil é o país que tem a maior comunidade de descendentes de italianos em todo o mundo.
La Sofia, um empreendimento privado
A chegada dos 388 italianos há 150 anos foi fruto de um empreendimento privado. “Foi um acordo entre um imigrante italiano que já residia no Brasil desde 1850, Pietro Tabacchi, e o Ministério da Agricultura”, contextualiza Moreira.
Oriundo de Trento, Tabacchi foi pessoalmente à península itálica para arregimentar camponeses. É preciso ressaltar que embora a Itália tenha concluído sua unificação em 1871 , o Trento seguiu sob domínio austro-húngaro — foi anexado à Itália apenas em 1920.
“Não há muitas informações específicas sobre o navio La Sofia. O que se sabe é que partiu do porto de Gênova e desembarcou direto no porto de Vitória”, comenta a antropóloga. “De um modo geral, grande parte dos imigrantes viajava de terceira classe, o que não era muito favorável. Fazia muito calor e eram lugares propícios para divulgação de doenças diversas”.
Segundo a socióloga e historiadora Vania Herédia, professora da Universidade de Caxias do Sul (RS), as viagens de imigrantes da época se destacavam “pela precariedade e pelo excesso de pessoas” a bordo, em navios que em geral apresentavam péssimas condições.
“Alimentação e higiene eram de baixa qualidade”, acrescenta o sociólogo Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia de São Paulo e da Escola Superior de Propaganda de Marketing.
Chegando ao Espírito Santo, esses trabalhadores tiveram como primeira tarefa a lida nas terras de Tabacchi, principalmente derrubando jacarandás para exportação.
“As características da propriedade não eram como as prometidas e o alojamento tinha péssimas condições. Dessa forma, foi gerada a primeira revolta desses trabalhadores, e muitos acabaram por se dirigir para outras colônias em melhor situação”, diz Moreira.
“Eles não retornaram na colônia o que eles haviam sido prometidos. Temos um registro [dos que foram para] do núcleo Timbuí, em Santa Teresa [hoje município]. As pessoas se estabeleceram lá, mas em condições difíceis e desfavoráveis”, afirma a historiadora Terciane Luchese, professora da Universidade de Caxias do Sul.
“A imigração para o Espírito Santo foi majoritariamente para núcleos coloniais”, descreve o historiador Paulo Henrique Martinez, professor da Universidade Estadual Paulista. “O trabalho realizado consistiu, inicialmente, na abertura de áreas para cultivo, com a exploração de madeira, pequenas criações e o plantio de gêneros de abastecimento e alimentos. Embora tímida, a cafeicultura absorveu contingentes de trabalhadores estrangeiros ali também”.