Governo quer enviar ao Congresso novas medidas para arrecadação, mas não pensa em corte de gastos, dizem especialistas

Governo quer enviar ao Congresso novas medidas para arrecadação, mas não pensa em corte de gastos, dizem especialistas

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Preocupado com o ritmo de tramitação da agenda econômica, Haddad voltou a dizer que pode enviar outras propostas ao Legislativo

Esplanada dos Ministérios com o Congresso Nacional ao fundo, em Brasília Esplanada dos Ministérios com o Congresso Nacional ao fundo, em Brasília07/04/2010REUTERS/Ricardo Moraes

Cristiane Nobertoda CNN

Brasília

02/12/2023 às

Com a necessidade de, antes do recesso parlamentar, aprovar no Congresso propostas que visam aumentar a arrecadação, o governo prevê que algumas das medidas devem ficar para 2024.

Com temor de não conseguir atingir os R$ 168,5 bilhões para zerar o déficit das contas públicas no ano que vem, a equipe econômica avalia o envio de novos projetos mirando a arrecadação, mas sem sinalizar cortes de gastos.

CNN Brasil LogoReceba, em primeira mão, as principais notícias da CNN Brasil no seu WhatsApp!

Inscrever-seWhatsApp LogoO esforço prioritário nesta reta final de 2023 é para a aprovação da reforma tributária na Câmara dos Deputados. A expectativa do governo é que não haja mudanças significativas e a proposta seja levada à sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda este ano.

Outra matéria decisiva que está na mira do Ministério da Fazenda é a medida provisória (MP) que muda as regras de tributação dos benefícios fiscais de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A proposta tem potencial arrecadatório de R$ 35 bilhões.

Na última quarta (29), o Congresso Nacional instalou uma comissão especial para discutir a matéria.

Como mostrou a CNN, uma das ideias ventiladas pela equipe econômica é inserir o projeto de lei que acaba com os Juros Sobre Capital Próprio (JCP) — uma espécie de distribuição de dividendos a acionistas de grandes empresas — na medida provisória sobre subvenções.

No entanto, parlamentares ouvidos pela reportagem acreditam que a proposta ainda precisa de maturação e, por essa razão, podem ficar para o próximo ano.

Pelos cálculos da Fazenda, o potencial arrecadatório com esta medida chega a R$ 10 bilhões.

No Senado, a prioridade é aprovar o projeto de lei (PL) que taxa as apostas esportivas online, também conhecidas como “bets”, com arrecadação prevista em R$ 2,5 bilhões.

Preocupado com o ritmo de tramitação das medidas econômicas no Congresso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a dizer que poderá enviar novas propostas ao Legislativo.

Durante o Fórum Econômico Brasil–Catar, na quinta-feira (30), Haddad afirmou a jornalistas que o governo vai “trabalhar até o último dia” para aprovar leis que propiciem o aumento da arrecadação e o aproximem o governo da meta de zerar o déficit primário em 2024.

“Nós vamos trabalhar até o último dia para tudo isso ser aprovado. Nós temos o apoio tanto do presidente da Câmara quanto do Senado. (…) Se não der para alcançar, nós vamos tomar outras medidas; nós não podemos parar, nós temos que perseguir essa meta obstinadamente”, disse ao ser questionado por jornalistas.

Especialistas consultados pela CNN apontam que, apesar dos esforços do governo para elevar a arrecadação e com a perspectiva de novas medidas, a promessa de déficit zero em 2024 dificilmente será cumprida se o governo não cortar despesas.

Na avaliação do ex-presidente da Câmara dos Deputados e atual presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF), Rodrigo Maia, medidas que aumentem a arrecadação são sempre bem-vindas, mas se não controlar as despesas, será muito ruim para a sociedade.

“A agenda de medidas de arrecadação, que melhorem o sistema, como o ministro está dizendo, que é o objetivo dele, não aumento na veia da carga tributária, é sempre bem-vinda”. disse.

“E o outro lado é olhar o lado da despesa, porque com esse arcabouço contratado de aumento real da despesa, se ele não tentar controlar alguma coisa de despesa, a sociedade vai ser punida porque você vai ter que aumentar a carga tributária em 3, 4, 5 pontos do PIB, o que é muito ruim para toda a sociedade”.

O economista Sergio Vale avalia ser “impossível” o governo conseguir alcançar os R$ 168,5 bilhões necessários para zerar o déficit fiscal com as medidas no Congresso.

Para ele, o problema volta à origem: um marco fiscal excessivamente baseado em arrecadação em um país que já tem carga tributária muito elevada.

“Não consigo ver o governo fechar a conta em 2024. Esse ano já foi sintomático. Haddad falava de déficit de 1% e o déficit caminha para ficar próximo de 2%. Os dilemas fiscais vão permanecer durante todo o governo. Não vejo muita alternativa a não ser atacar a renda”, pontuou.

“Haddad tem que tomar cuidado com essa sanha arrecadatória e nenhum sinal sobre os gastos. O Congresso pode chegar ao limite do que entende razoável de aumentar arrecadação. Vai aumentar a pressão da sociedade contra isso”.

O cientista político Horácio Ramalho avalia que o governo conseguirá aprovar algumas pautas até o fim do ano, mas a avaliação em geral não é boa. Segundo ele, o governo tratou apenas de receitas futuras e não há efetivamente um corte de gastos e nem algum gesto nesse sentido.

Ramalho ainda chama a atenção para a relação entre Executivo e Congresso. De acordo com ele, o governo Lula 3 foi o que menos aprovou projetos desde o governo Collor no 1º ano de mandato, o que demanda mais concessões por parte do Executivo aos partidos com maioria nas Casas.

“O PT ganhou uma eleição muito apertada e passou longe de ter maioria no Congresso. Para começar a alcançar êxitos nas votações teve que abrir espaços para os partidos PP, Republicanos e União Brasil, mas mesmo assim o governo patina nas relações com o Congresso. Parece ainda que o governo prefere gastar capital político nas indicações para o judiciário do que com a política fiscal, basta ver as duas indicações que o presidente Lula fez ao STF”, disse.

De acordo com o analista político sócio da Dharma Politics, Matheus Albuquerque, a aprovação desses projetos, assim como outros, demandam uma relação azeitada, principalmente com os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) e do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

“Considerando essa conjuntura, para que o governo seja bem-sucedido — em tempo — as demandas no Legislativo deverão ser atendidas. O risco reside, entretanto, na adaptabilidade do plano fiscal do governo. As relações entre Executivo e Legislativo não são um fenômeno isolado”, diz.

“Partícipes desse processo – como grupos de interesse (lobbies) – incidem sobre a agenda fiscal e econômica de elaboração do Governo no intuito de alterar os textos apresentados ao Congresso Nacional”.

Nos últimos dias antes do recesso, o Congresso ainda tem as missões de analisar o relatório da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e os vetos presidenciais.

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