Por que o mercado ignorou o recado do Banco Central e manteve a previsão de queda da Selic em 2023

Por que o mercado ignorou o recado do Banco Central e manteve a previsão de queda da Selic em 2023

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Divulgação da ata do Copom, prevista para amanhã, pode ter levado parte dos agentes do mercado a aguardar o documento para rever a taxa Selic, mas não é só isso

Ricardo Gozzi

Montagem mostrando o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, escalando uma montanha, sinalizando o ciclo de alta da Selic, a taxa básica de juros do Brasil, promovido pelo Copom
Roberto Campos Neto pode passar mais tempo no topo do Monte Selic. Imagem: Unsplash/Agência Brasil; montagem Andre Morais

A pesquisa Focus do Banco Central (BC) veio à tona na manhã desta segunda-feira com variações residuais nas projeções de inflação (para cima) e do PIB (para baixo) em 2023. O que saltou aos olhos, entretanto, foi o que não se moveu. Pela terceira semana seguida, a mediana das expectativas dos agentes de mercado para a taxa Selic ao fim de 2023 permaneceu em 12,50% ao ano.

Embora esteja acima da projeção de quatro semanas atrás (12,25%), uma leitura fria do resultado sugere que o mercado espera do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC cortes da ordem de 125 pontos-base até o fim do ano.

Recorrendo ao dicionário de bancocentralês, pode-se dizer que a expectativa está desancorada. Da realidade.

A dura linguagem do Copom

Na semana passada, depois de o Copom ter decidido manter a Selic em 13,75% ao ano pelo próximo mês e meio, a dura linguagem do comunicado teve impacto direto sobre a inclinação da curva de juros futuros.

A leitura dos analistas é de que o Copom deve manter a taxa básica de juro em 13,75% ao ano por mais tempo que o esperado anteriormente, retardando assim o início de um futuro alívio monetário.

 

A queda de braço entre BC e governo

As justificativas do Copom são a desancoragem das expectativas de inflação no longo prazo e o risco fiscal. No entanto, a situação da taxa de juro tem como pano de fundo uma queda de braço entre o Palácio do Planalto e o Banco Central.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já questionou em mais de uma ocasião a autonomia do Banco Central e cobra da autoridade monetária participação em um esforço conjunto em sua tentativa de recuperar a economia.

Para Lula e seus ministros, o novo governo assumiu há pouco mais de um mês e não é responsável pelo atual déficit fiscal nem pelo nível da inflação, motivo pelo qual mereceria um voto de confiança do BC para recolocar a casa em ordem.

Voltando à Focus

Além da taxa Selic, outro foco de tensão entre o novo governo e o BC é a condução do regime de metas de inflação.

Em última instância, uma eventual alteração das metas tem potencial de impacto imediato sobre as expectativas para o IPCA neste e nos próximos anos.

 

Mas o que surpreendeu na edição desta semana da Focus foi a permanência da projeção para a Selic no mesmo nível pela terceira semana seguida.

“Essas expectativas são tímidas e ainda não refletem o potencial de revisão que a gente pode encontrar na semana que vem”, afirma Mirella Hirakawa, economista sênior da AZ Quest.

Na avaliação de analistas consultados pelo Seu Dinheiro, o movimento (ou falta de) tem dois motivos principais:

  • a ata da última reunião do Copom; e
  • as datas críticas de alimentação da base de dados do BC.

A divulgação da ata da última reunião do Copom, prevista para amanhã, pode ter levado parte dos agentes do mercado a aguardar o documento antes de revisarem suas projeções.

Já a próxima data crítica de alimentação da base de dados é 10 de fevereiro, sexta-feira. É quando os agentes mais bem ranqueados devem enviar suas novas projeções ao BC.

 

No comunicado divulgado junto com a decisão do Copom, na semana passada, o BC sinalizou que o cenário de referência é insuficiente para ancorar as expectativas às metas de inflação.

A autoridade monetária também recorreu a um dos cenários alternativos para indicar que seu plano de voo para a ancoragem das expectativas poderia incluir a manutenção da taxa Selic a 13,75% ao ano até o terceiro trimestre de 2024.

Na avaliação de Mirella Hirakawa, “o mercado deve migrar para essa manutenção e a gente deve ver revisões mais significantes na semana que vem”.

Fonte : SD

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