O FGC está prestes a reembolsar o dinheiro de mais de 1,6 milhão de brasileiros que investiram no Banco Master. Mas existe um custo adicional que passou despercebido e que não será reembolsado. Quando um banco entra em liquidação extrajudicial, a manchete costuma virar uma só: “o FGC vai pagar até R$ 250 mil”. Isso alivia o medo imediato, porque o principal e os juros até uma determinada data tende a voltar. Só que existe um prejuízo real, inevitável e pouco comentado, que nasce no mesmo instante em que o Banco Central decreta a liquidação: o seu dinheiro fica parado, sem render, e esse “tempo perdido” não é coberto pelo FGC.
No caso do Banco Master, isso é ainda mais relevante porque o evento foi grande, com estimativa de dezenas de bilhões em valores garantidos. Portanto, mesmo um “pequeno” percentual de juros perdidos vira uma montanha quando você soma todo mundo.
O que aconteceu e por que o relógio do rendimento para
Em 18 de novembro de 2025, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master (e outras entidades do grupo, conforme atos publicados na mesma data). (Banco Central do Brasil)
A partir daí, entra o rito do FGC: o liquidante consolida a base de credores e envia a lista ao Fundo para viabilizar os pagamentos. O próprio FGC explica que esse processo específico de preparação pode levar, em média, cerca de 30 dias úteis, porque depende do envio e conferência das informações. (FGC)
Até aqui, tudo bem. O problema está na regra de remuneração.
A regra que quase ninguém lê: o FGC “congela” juros na data-base
O FGC paga o que está dentro das regras, e isso inclui, em geral, principal + rendimento devido até a data da decretação do regime especial. Mas é importante deixar claro que:
- os vencimentos são antecipados para a data do evento, e
- entre a data do regime especial e a data do efetivo pagamento, não há remuneração.
Ou seja, o relógio dos juros para na data da liquidação, e o tempo até você receber não rende nada. (FGC)
É assim mesmo que funciona. Só que, para você, o efeito econômico deve observado: se você recebesse no mesmo dia, reinvestiria; como não recebe, perde rendimento. Isso produz um custo, que é o custo das oportunidades que você perderá por não ter acesso ao seu dinheiro parado imediatamente.
Custo de oportunidade, vamos entender de forma fácil:
Custo de oportunidade é o preço do “não poder fazer o melhor uso do seu recurso”. Se o dinheiro estivesse na sua mão, poderia render em algo conservador (por exemplo, um pós-fixado a 100% do CDI) ou até mais dependendo das oportunidades que temos hoje. Na prática, é um dinheiro que se perderá.
Exemplo rápido:
Se você tem R$ 100 mil parados por tempo suficiente para perder 2% a 3%, isso já é algo como R$ 2 mil a R$ 3 mil. É um valor significativo que será perdido. Certamente você sabe dizer muitas coisas que poderia fazer com esse dinheiro.
Simulação conservadora
Vamos fazer aqui uma simulação de quanto você pode perder caso o FGC devolva o seu dinheiro no dia 31/12/2025.
Como o CDI é uma taxa diária que “anda” em dias úteis, vamos assumir, de forma conservadora e consistente com a base do CDI, que haverá 29 dias úteis entre a data de liquidação e 31/12/2025. Nesse intervalo, você não recebe juros e não consegue reinvestir o capital, então o custo de oportunidade aparece como rendimento perdido.
1) Convertendo 14,90% a.a. (atual 100% do CDI) para taxa diária (base 252):
Taxa diária composta ≈ ((1 + 0,1490)^{1/252} – 1) ≈ 0,055131% ao dia útil.
2) Dias em que você não receberá remuneração (29 dias úteis até 31/12/2025):
((1 + 0,00055131)^{29} – 1) ≈ 1,611202%.
Agora, aplicando esse percentual ao valor “a receber” (e que fica parado no intervalo):
| Valor a receber do FGC | Perda estimada (29 dias úteis a 100% do CDI) |
|---|---|
| R$ 10.000 | R$ 161,12 |
| R$ 100.000 | R$ 1.611,20 |
| R$ 250.000 | R$ 4.028,01 |
Caso queira simular outros valores, multiplique o valor que você tem a receber por 1,611202%.
Esses números refletem uma perda conservadora, porque estou assumindo só 100% do CDI e apenas o período até 31/12/2025.
Duas observações de prudência:
Se o pagamento atrasar além de 31/12/2025, a perda cresce. Em renda fixa, tempo é dinheiro de verdade. Imagine se o dinheiro ficar parado por 2 ou 3 meses.
Esse custo não aparece como taxa, multa ou desconto explícito. Ele aparece como rendimento que você deixa de ganhar, porque o dinheiro ficou travado entre a liquidação e o crédito na sua conta.
Quando você soma todo mundo, o “invisível” vira centenas de milhões
Se você aplicar a mesma perda percentual da simulação (1,611202%) sobre R$ 41 bilhões, o custo de oportunidade agregado fica perto de:
R$ 41.000.000.000 × 0,01611202 ≈ R$ 660.592.820
Ou seja, algo como R$ 660 milhões em rendimento que “evapora” só porque o dinheiro ficou parado no caminho entre a liquidação e o crédito na conta.
E repare no aspecto moral do problema: ninguém “vê” esse desconto, porque ele não aparece como tarifa nem como imposto destacado. Ele vem como erosão silenciosa do seu tempo. E tempo, para quem trabalha e sustenta família, é um ativo sagrado.
O que isso ensina sobre CDB, LCI e LCA?
A lição não é “nunca use FGC”. A lição é: não trate FGC como plano A. Ele é airbag, não direção defensiva.
Três conclusões práticas, conservadoras:
- Não encoste no limite de R$ 250 mil como se fosse “zona segura”. O limite existe, mas o custo de ficar travado existe também, e o próprio valor garantido tem regras e travas. (FGC)
- Diversifique por instituição/conglomerado e respeite liquidez. Concentração é o jeito mais rápido de transformar um imprevisto em crise doméstica.
- Pergunte “quanto eu perco se eu precisar desse dinheiro e ele travar?” Se a resposta te assusta, você já encontrou o risco que estava ignorando.
- Diversifique os prazos de vencimento. Em geral, é melhor ter dez aplicações de R$ 1.000 com vencimentos em datas diferentes do que uma única aplicação de R$ 10.000 vencendo em um só dia. Assim, você melhora a liquidez e reduz o risco de precisar reaplicar tudo de uma vez, justamente quando as taxas podem estar piores.
O dinheiro pode voltar, mas o tempo não volta
Se você investiu no Banco Master e está dentro do limite do FGC, o principal tende a ser pago dentro do rito. (FGC) Porém, o rendimento entre 18/11/2025 e o dia do recebimento não será pago. (FGC) Isso é um prejuízo inegável no sentido econômico: é o custo de oportunidade de não poder reinvestir.
Esse custo é invisível, mas não é pequeno. E quanto maior o seu valor a receber, maior o rombo do “tempo sem juros”.
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Por Leandro ÁvilaPublished On: 22/12/2025Categorias: Renda Fixa0 Comentárioson O prejuízo que o FGC não vai cobrir: o custo de oportunidade
Leandro Ávila é Educador Financeiro, Administrador de Empresas, com extensão em Investimentos Financeiros e Finanças Pessoais. Autor do blog Clube dos Poupadores e de diversos livros sobre investimentos e independência financeira.



