Luiz Alberto Machado[1]
Em reunião realizada dia 18 de junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros para 15% ao ano, maior patamar em quase 20 anos.
Com a elevação de 0,25%, o Copom pôs fim às especulações que antecederam a decisão, que estavam divididas entre a manutenção do patamar de 14,75% ou um pequeno aumento, que acabou prevalecendo.
Tomando a referida decisão, o Banco Central deixou claro que continua preocupado com as expectativas de inflação acima da meta de 3%, embora as projeções estejam se reduzindo semanalmente, de acordo com os relatórios do Boletim Focus divulgados às segundas-feiras, com as indicações de representantes do mercado financeiro.
Ainda que reconheça que os juros se encontrem num patamar elevado, suficiente para desacelerar a economia e que seria o momento de encerrar o ciclo de alta iniciado em setembro, existem pelo menos dois fatores que explicam o adiamento da redução: o primeiro diz respeito à expectativa de crescimento do PIB em níveis superiores aos esperados no início do ano; o segundo reside no mercado de trabalho aquecido, com a taxa de desemprego próxima do mínimo histórico. A combinação desses dois fatores, segundo o Banco Central pode pressionar a inflação, sobretudo no setor de serviços.
De acordo com a teoria econômica, há três instrumentos de política econômica: monetária, fiscal e cambial.
No caso brasileiro, é muito reduzida a possibilidade de controlar a política cambial, que depende demais de fatores externos. Com a situação complicada por conta de conflitos internacionais e da instabilidade provocada pelas ações de Donald Trump, essa possibilidade torna-se ainda menor.
Restariam pois as políticas fiscal e monetária. Dada a relutância do presidente Lula em cortar gastos e de adotar uma política fiscal mais rígida, insistindo em combater o déficit pelo lado da receita, a manutenção da inflação num patamar aceitável − mesmo que superior à meta − fica sob responsabilidade quase exclusiva da política monetária e, nesse sentido, como já aconteceu outras vezes no passado, sobra para a Selic, com todas as consequências indesejáveis daí advindas.
Tendo em conta que nos encontramos na etapa final do mandato do atual governo e o óbvio interesse na reeleição, imaginar alguma mudança significativa se assemelha a um sonho de uma noite de verão, em pleno ingresso no inverno no hemisfério sul.
[1] Economista, graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Mackenzie, mestre em Criatividade e Inovação pela Universidade Fernando Pessoa (Portugal), é sócio-diretor da empresa SAM – Souza Aranha Machado Consultoria e Produções Artísticas e consultor da Fundação Espaço Democrático. Foi presidente do Corecon-SP e do Cofecon.