Selic pode chegar a 13%? Se o governo não controlar o crescimento das despesas obrigatórias, sim, explica analista

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Para Matheus Spiess, da Empiricus Research, ativos de risco dependem de corte de gastos proposto pelo Ministério da Fazenda para se valorizarem.

Por Nicole Vasselai

15 out 2024,

ações taxa de juros Selic

Imagem: iStock.com/Just_Super

controle das contas públicas continua sendo uma das principais pedras no sapato do Brasil e tem intensificado a preocupação dos investidores.

Diante da crescente pressão a questão fiscal, ontem (14), as declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do futuro presidente do Banco CentralGabriel Galípolo, trouxeram um breve alívio ao mercado ao indicarem que o governo estaria preparando medidas de contenção de despesas para depois do segundo turno das eleições municipais.

Quais medidas de contenção foram propostas?

Diante da pressão As medidas têm como objetivo principal controlar os gastos obrigatórios e garantir que a dívida pública bruta se mantenha abaixo de 80% do PIB.

Estão no radar do governo para serem revisadas as regras do Benefício de Prestação Continuada (BPC), uma das principais políticas públicas do país, destinada a idosos a partir de 65 anos e a pessoas com deficiência, cuja renda familiar per capita seja de até um quarto do salário mínimo.

Dentre o que está sendo revisado pelo governo, destacam-se o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e outros programas de transferências como abono salarial, seguro-desemprego e benefícios previdenciários.

No entanto, analistas continuam a alertar sobre a urgência de ações concretas para garantir a sustentabilidade fiscal.

‘Ativos de risco dependem de ajustes fiscais importantes’

Matheus Spiess, analista de macroeconomia da Empiricus Research, destaca que, embora as promessas de ajustes fiscais tenham aliviado momentaneamente os ânimos, “a paciência dos investidores com promessas ainda não concretizadas está se esgotando”.

Segundo ele, sem a implementação de ajustes fiscais significativos, os ativos de risco continuam sob forte pressão.

Em uma análise mais profunda, Spiess explica que o Brasil está, em grande parte, dependendo das decisões sobre a Selic, taxa básica de juros, para lidar com as expectativas inflacionárias e tentar estabilizar a economia.

“Na ausência de um plano robusto e confiável, o Brasil tem se apoiado quase exclusivamente na política monetária“, afirma, destacando que o Banco Central tem adotado aumentos sucessivos nas taxas de juros como tentativa de conter a inflação.

Risco fiscal cresceu após falas de Lula

A tensão no mercado financeiro aumentou ainda mais na última sexta-feira (11), quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez declarações que agravaram a percepção de risco fiscal.

Entre as novidades divulgadas estavam a aquisição de novos aviões para a presidência e a ampliação da isenção do Imposto de Renda para rendas de até R$ 5 mil. Esses anúncios resultaram em uma alta do dólar e aumento dos juros de mercado. Além disso, o Ibovespa, principal índice de ações brasileiras, derreteu e voltou a ficar abaixo dos 130 mil pontos.

A decisão de ampliar a isenção de Imposto de Renda gerou um debate sobre como o governo pretende financiar tais medidas.

Uma possível solução discutida nos bastidores, conta Spiess, seria a criação de um imposto mínimo sobre pessoas físicas com rendas superiores a R$ 1 milhão, com alíquotas entre 12% e 15%. O tributo seria calculado sobre a renda total do contribuinte e comparado ao valor já pago pelo sistema tradicional de Imposto de Renda.

No entanto, o analista questiona a eficácia da medida. Para ele, a proposta demonstra “uma carência de criatividade por parte do governo” para reduzir os gastos públicos, já que, em sua visão, “tudo o que conseguem pensar é em aumento de impostos”.

Mercado está cético em relação aos ajustes fiscais

Spiess também reforça o quanto o mercado se mantém cético quanto à capacidade do atual governo de realizar um ajuste fiscal profundo.

“A falta de vontade política e de força em Brasília, especialmente após o primeiro turno, sugere que uma reforma fiscal mais ampla poderá ser postergada para um futuro governo, após 2026. Mesmo assim, medidas imediatas são fundamentais para demonstrar um compromisso concreto com o cumprimento do novo arcabouço fiscal“.

Investidores já precificam uma Selic final de 13% ou mais

Para Spiess, se o governo não tomar providências concretas para controlar o crescimento das despesas obrigatórias, entra no jogo o risco de uma escalada da inflação e de um iminente aumento nas taxas de juros.

“Como consequência, o recente aumento de estresse no mercado financeiro já refletiu na precificação de uma Selic final entre 13,25% e 13,5%, bem acima dos atuais 10,75%”, explica.

“Nesse cenário, a definição da taxa de juros terminal (onde a Selic vai parar) está cada vez mais vinculada às ações do Ministério da Fazenda, e não apenas às decisões do Banco Central. Mesmo um leve sinal de compromisso com a responsabilidade fiscal poderia ajudar a aliviar as pressões sobre os mercados”.

Nesse cenário, Spiess compara o governo Lula III a um possível “Dilma II“, em referência ao segundo mandato de Dilma Rousseff, caracterizado por um período de “desancoragem da inflação”, em suas palavras.

No entanto, o analista também vê um caminho mais favorável para o Brasil, caso o governo implemente cortes reais nos gastos e cumpra com o novo arcabouço fiscal.

“Em poucas palavras, portanto, para assegurar um fim de ano mais promissor, cortes efetivos nos gastos são imprescindíveis“, conclui.

 

Sobre o autor

Nicole Vasselai

Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.

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